O que discutir no atual contexto da transformação educacional?

É fundamental repensar o modo como a sobrestima da conetividade pode produzir efeitos negativos a partir de uma educação centrada no ecrã.

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"A transformação digital não poderá corresponder a mais discriminação e a diferentes formas de desigualdade" Daniel Rocha/Arquivo
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No âmbito de uma discussão internacional recente, foi explorada a questão essencial do papel transformador da educação e da formação, assumindo-se que a função social da educação se revela no contributo que pode dar para a construção de sociedades marcadas, presentemente, pela transformação digital, como nova forma de interação humana, bem como pelo desafio de estabelecer democracias estáveis, associadas à valorização da cidadania como saber de compromisso social e pessoal, e pela necessidade imperiosa de promover aprendizagens direcionadas para as diferentes áreas do conhecimento, evitando que os sistemas educativos contribuam para secundarizar os saberes ligados às humanidades, às artes e à ética.

Assim, tais prioridades são questionadas em função de diferentes dimensões e tensões em variados contextos.

Primeiramente, no plano cultural, cujo processo de definição dos conteúdos educativos se relaciona, para além das questões científicas e educativas, com a cultura ou, de modo mais direto, com a inteligência cultural e com o direito de participação na vida cultural.

Depois, ao nível da integração dos saberes e da promoção de temáticas que a pandemia revelou como prioritárias, por exemplo, saúde, valorização da ciência e defesa de uma verdade filtrada por valores que têm na sua base de afirmação e reconhecimento social um denominador mínimo comum.

Por último, no contexto da inovação, quer pelo uso crítico de tecnologias digitais, quer pela garantia de existência de recursos que assegurem a conetividade e a utilização de diversas ferramentas tecnológicas, já que a inevitabilidade da transformação digital não poderá corresponder a mais discriminação e a diferentes formas de desigualdade, mas a uma oportunidade de mudar profundamente a educação.

É ainda fundamental repensar o modo como a sobrestima da conetividade pode produzir efeitos negativos a partir de uma educação centrada no ecrã, tornando-se pertinente discutir o que representa, em termos de mudanças curriculares e pedagógicas, e também ao nível das relações sociais, a existência de uma escola digital, bem como de que modo certos dispositivos tecnológicos têm impacto negativo no quotidiano das crianças e dos jovens (nas escolas, nos espaços de socialização e nas salas de aula).

A discussão destes temas não será feita, porém, sem a abordagem da temática docente, particularmente pela existência de docentes qualificados (formação inicial e contínua como princípio estruturante do desenvolvimento profissional), autónomos nas decisões pedagógicas (capital decisional como fundamento da prática profissional) e comprometidos com a qualidade das aprendizagens das crianças e dos jovens (sucesso educativo como condição para a afirmação de uma escola pública de qualidade).

Além da questão sempre complexa dos docentes, pois são muitas as variáveis que diferenciam a sua análise nos diferentes sistemas educativos, a discussão centrar-se-á, também, nas políticas educativas, sobretudo quando há uma dissonância entre agendas comuns e resultados, porque não há uma só forma de governança, nem um modelo abrangente de todos os territórios educativos.

A diversidade das políticas educativas, apesar dos pontos que possam ter em comum, como é o caso da inclusão, da equidade e da justiça, conjuga-se com o modo específico de agir de instituições e pessoas, por mais global que, hoje em dia, seja a sociedade.

Em discussões amplas que envolvem pessoas oriundas de diferentes continentes, regiões e países, torna-se habitual a discussão não só da evidência dos resultados educativos, em sociedades cada vez mais ligadas a conceitos transnacionais, que estão na origem das políticas de partilha de conhecimento, como das tecnologias digitais, perspetivadas pelas mudanças estruturantes que originam na educação, pelo fosso das desigualdades que podem provocar e pela necessidade de serem enquadradas criticamente nos sistemas educativos.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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