Os meus períodos são normais?

Um período “normal” é algo que varia. Como saber o que é normal (para ti), o que pode ser indício de uma doença mais grave e o que pode estar a alterá-lo.

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Os meus períodos são normais? Pexels/ Polina Zimmerman
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"Com que frequência devo ter o período? Ouvi dizer que é a cada 28 dias, mas o meu ciclo às vezes é mais longo e outras vezes é mais curto. Como é que sei se o meu período é normal?" Um “período normal” é algo que varia muito e, sem surpresa, muitas pessoas continuam com dúvidas.

Vamos ter em conta a mulher holandesa média: ao longo da vida inteira, pode ter 450 períodos (que se traduz em mais de oito anos passados a menstruar). Contudo, em populações com um maior número de gravidezes, como é o caso dos Dogon, no Mali, as mulheres têm apenas uma pequena fracção disso – cerca de 100 períodos ao longo da vida inteira.

Os cientistas especulam que este aumento no número de períodos ao longo da vida acontece em países com economias mais desenvolvidas porque se passa menos tempo grávida ou a amamentar (em ambos os casos, a menstruação fica suprimida). Além disso, a menarca (a primeira menstruação) acontece numa idade mais jovem do que nas gerações passadas.

Isto é uma preocupação porque o sangramento em excesso e as cólicas graves durante o período consomem muito mais a vida das mulheres agora.

O que é um período normal?

Então, o que é que isto tudo quer dizer? Bem, há a definição dos livros sobre o que é normal e existe o que é normal para ti. Às vezes essas duas definições sobrepõem-se; outras vezes não. Contudo, estes são os parâmetros da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, usados pelos médicos:

  • Os ciclos menstruais normais têm entre 24 e 38 dias;
  • Não duram mais do que oito dias;
  • Acontecem com alguma previsibilidade, com uma variação que não ultrapassa os nove dias (para pessoas entre os 26 e os 41 anos não devia ser mais do que sete dias);
  • A quantidade de sangue perdido não parece muito (nem pouco) para ti.

O último é um pouco mais complicado. Afinal, apenas vivemos no nosso corpo, como é que sabemos quando “é demais”?

Os médicos dependem do paciente, que deve informá-los se o sangramento é tão abundante que se torna um obstáculo. As outras pistas que podem mostrar que se trata de uma menstruação mais abundante do que o normal costumam incluir:

  • Se mudas o tampão entre uma e duas horas;
  • Se tens de mudar de penso frequentemente durante a noite;
  • Se notas que tens coágulos grandes (maiores do que 2,50 centímetros);
  • O teu médico diagnosticou-te com anemia.

Contudo, e mesmo depois de revistos estes parâmetros, o que é “normal” ainda depende de ti. “Tem mais que ver com a forma como podemos optimizar os períodos de cada pessoa”, disse Alison Edelman, professora de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Saúde e Ciência de Oregon. “Se algo não está a funcionar para ti, mesmo que o teu período seja ‘normal’, precisas de falar com o teu médico sobre isso.”

Como tratar as cólicas menstruais?

Uma mudança que podes considerar se tiveres cólicas menstruais é a altura em que tomas a medicação. Os medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides, como o ibuprofeno, visa as prostaglandinas – compostos produzidos pelo corpo no início da menstruação que podem causar contracções uterinas dolorosas.

O ibuprofeno não funciona para ti? De acordo com Edelman, isso pode dever-se ao facto de muitos de nós usarem a medicação no momento em que estamos com dores, mas, nessa altura, os níveis de prostaglandina estão bastante altos.

Em vez disso, começa a tomar ibuprofeno um dia ou dois antes do início esperado das cólicas. “Se conseguirmos dar resposta antes de as prostaglandinas serem geradas, conseguimos um controlo melhor da dor”, explica.

De qualquer forma, os medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides não funciona para toda a gente. Há mais opções para controlar as cólicas dolorosas – e tentar perceber por que razão acontecem – que devem ser discutidas com o teu médico.

Porque é que os teus períodos podem mudar?

Há meses em que o teu período simplesmente não está como o normal. Este facto sozinho pode não ser o suficiente para gerar preocupação, mas é importante manter algum tipo de registo porque os períodos irregulares podem ser um sintoma de algumas doenças. Usar uma aplicação de registo da menstruação, uma tabela, um calendário (seja digital ou em papel) são opções.

  • Gravidez: a gravidez está sempre no topo da lista de razões para um período atrasado. Se tiveste relações sexuais, faz um teste de gravidez. E lembra-te que é normal ter alguns sangramentos durante o primeiro trimestre;
  • Endometriose: é uma doença extremamente dolorosa onde o tecido uterino cresce fora do útero. Pode causar sangramentos anormais e muitas vezes não é diagnosticado, apesar de afectar cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva;
  • Outras causas: há outras coisas que podem causar flutuações no teu período. Isso inclui o stress (por exemplo, uma viagem ou em preparação para um teste importante), exercício extremo, grandes alterações de peso, perturbações do comportamento alimentar, uma doença aguda ou, claro, gravidez, amamentação, puberdade ou menopausa;
  • Vacinação: como estamos em plena campanha de vacinação, vale a pena lembrar que a vacina contra a covid-19 está associada a um aumento temporário da duração do ciclo menstrual e um risco ligeiramente maior de um período mais abundante, como mostram os estudos de Edelman e da sua equipa.

A professora nota que estas mudanças normalizam depois do primeiro ciclo menstrual pós-vacina, mas considera que o público devia estar consciente delas como um potencial efeito secundário. “Se não esperares ter uma febre alta depois da vacina, e, do nada, tens uma febre alta depois da vacina, vais achar que está algo de errado contigo.”

Ter conhecimento pode dar segurança, acredita Edelman. "O que eu quero que os doentes saibam? As pessoas com períodos abundantes muitas vezes acham que é normal porque a mãe ou a irmã também têm os mesmos sintomas. É muito importante não normalizar o sofrimento. Dar um passo atrás e analisar os teus sintomas de longe. Se te está a impedir de fazer – e ainda menos de apreciar – as tuas actividades diárias, então fala com o teu médico."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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