A inflação da impunidade

Estamos longe de saber se as suspeitas se confirmam ou não. Mas o caldo de cultura que permitiu esta nebulosa estrutural, esse veio mesmo do gabinete de António Costa.

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O primeiro-ministro, que sempre encolheu os ombros a crises éticas e casos de corrupção nos seus Governos, e que acaba de ser derrubado por um caso de corrupção que envolve directamente o seu chefe de gabinete e o seu melhor amigo na arbitragem de negócios, e que o envolve indirectamente a ele próprio. Deixou crescer esta sombra que agora o engoliu.

Sem dúvida que nos próximos dias, assim que o despudor se sobrepuser ao choque, os opinadores do PS virão dizer que esta investigação é um caso grave de "judicialização da política" e que é preciso travar os desmandos do Ministério Público - como era preciso travá-los quando o escrutínio judicial se aproximou dos terrenos pantanosos do financiamento político. Nisso encontrará, como sempre tem encontrado, estadistas igualmente preocupados no PSD (cujo líder, recorde-se, também tem o seu currículo de suspeitas).

Só que o problema não é esse: o Governo descurou sempre o cumprimento de mínimos de ética política e transparência de processos administrativos. Esticou a corda na tensão com a Justiça, desde logo deixando tudo por fazer na prevenção e combate à corrupção e atirando qualquer dúvida ou caso problemático para o Ministério Público e os tribunais.

Estamos longe de saber se as suspeitas que envolvem assessores, ministros e o próprio primeiro-ministro se confirmam ou não. Mas o caldo de cultura que permitiu esta nebulosa estrutural, esse veio mesmo do gabinete de António Costa.

Texto actualizada às 15h20 com a constatação de que o Governo foi derrubado

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