As sociedades actuais deparam-se todas com múltiplos desafios que, de forma permanente, colocam em causa o seu modo de vida. Alguns destes fenómenos são de cariz político, relacionados com as temáticas da governação, dos movimentos sociais e da ascensão dos extremismos de um lado e do outro do espectro partidário; outros representam uma dimensão económica, em que os problemas do aumento da inflação, do fosso entre os mais e menos ricos e da pobreza absoluta têm um forte impacto nos laços e nas vivências individuais e comunitárias.
No entanto, existe uma esfera associada à vida que é mais transversal do que as problemáticas supracitadas: um dos maiores riscos que coloca o ser humano a braços com o seu destino são as perturbações ambientais derivadas das alterações climáticas.
A ideia de risco está associada a algo que nós não controlamos, ou seja, cujo destino os indivíduos não são capazes de determinar, no máximo esboçar algumas previsões. Todavia, estes riscos eram tidos como naturais até à chegada da modernidade, portanto, como eventos que aconteceriam de forma periódica, quase tradicional, e sobre os quais a intervenção humana era nula.
Hoje, pelo contrário, sabemos que os riscos são construídos socialmente: todas as consequências com que lidamos no que diz respeito ao aquecimento global, à perda da biodiversidade ou à destruição de infra-estruturas no interior das grandes cidades devido a inundações apresentam causas de (ausência de) consciência humana, como o mau planeamento e a má gestão de territórios, a exploração de locais que deveriam estar sob protecção, a gentrificação ou a criação de estruturas não compatíveis com a força e a durabilidade dos acontecimentos climatéricos.
Assim sendo, apenas o ser humano é capaz de reconstruir aquilo que continuamente destrói. E, ao contrário de encararmos de maneira naturalista estas ocorrências de catástrofe, inerentes a um estilo de vida que, erroneamente, se pretende cada vez mais consumista, devemos percepcioná-las como uma ameaça auto-infligida e uma barreira a uma sociedade mais equilibrada, justa, democrática e sustentável.
Do ponto de vista da mobilização cidadã que poderá fazer barulho e pressão no sentido de evitar a progressão da destruição dos ecossistemas e de uma economia minimamente credível para as classes mais necessitadas, cada um de nós deve agir.
Quer de forma individual, quer de forma grupal ou colectiva, é possível associarmo-nos a este tema que podemos considerar como universal e sermos activistas em prol dos direitos à vida animal, ao ambiente, aos recursos e à dignidade de toda a existência. E neste cenário são os jovens quem mais pode contribuir para que os valores humanitários e climáticos mais desejados se cumpram.
Os adolescentes e os jovens adultos estão atentos ao que se vai passando com o nosso lar e querem uma mudança de paradigma. Através de manifestações diversas e pacíficas, dentro das regras de convivência democrática e junto dos círculos de poder, têm conseguido fazer chegar progressivamente a sua mensagem de que é urgente olhar de modo crítico para o que sucede no ambiente.
Decerto que as suas acções são muito variadas e, por vezes, assentam numa perspectiva que transcende algum bom senso (como, por exemplo, a tentativa de danificação de obras de arte e o arremesso de tinta para cima de responsáveis políticos), porém, é bem mais a juventude que sai às ruas para apelar à protecção ambiental e da vida animal por quem de direito.
Estas pessoas assinam e partilham petições, informam-se pelos media e pela investigação científica de forma lúcida, participam em manifestações, propõem orçamentos participativos, integram ou mesmo planeiam e encetam projectos de teor comunitário para auxiliar vítimas dos efeitos das alterações climáticas.
São os jovens quem mais faz valer a idade que têm. O conhecimento da actualidade possibilita-lhes uma análise da realidade social como uma realidade complexa, multidimensional e mutável, necessitando de uma perspectiva integrada para a compreender e mudar.
Por isso, ao nível da cidadania, das artes e da ciência, podemos esperar deste grupo de indivíduos muita preocupação com o tema e muita dedicação no combate aos efeitos da subida da temperatura terrestre e aos fenómenos drásticos subsequentes. Só através daqueles três aspectos os jovens serão capazes de se orgulhar do mundo que um dia sonharam como seu.