António Costa saiu do grupo

Dizem que os jovens não se interessam por política, mas a forma como se comportam no WhatsApp indicia o contrário.

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Megafone P3: António Costa saiu do grupo DR
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No momento em que António Costa anunciou a sua demissão do cargo de primeiro-ministro, tivemos a certeza de duas coisas: que uma crise política se ia instalar no país e que, numa questão de minutos, as nossas conversas de grupo no WhatsApp seriam invadidas por stickers alusivos à situação.

Várias pessoas diferentes enviaram para vários grupos diferentes o mesmo sticker, de execução simples, mas demonstrativo de um acontecimento histórico e de consequências imprevisíveis. O sticker não é mais do que uma fotografia de António Costa, visivelmente feliz e a acenar, acompanhada pela frase, dura e seca, "saiu do grupo".

A piada é fácil, mas faz sentido — especialmente em contexto de WhatsApp. O mesmo aconteceria dias depois, quando se soube que João Galamba tinha haxixe em casa. Os stickers originados pela segunda notícia não são recomendáveis (são até bastante foleiros), mas a sua existência — e tráfico — é inegável.

Dizem que os jovens não se interessam por política, mas a forma como se comportam no WhatsApp indicia o contrário. A verdade é que a moda dos stickers tomou de assalto todas as faixas etárias, daí ser bastante comum uma pessoa enviar ou receber stickers referentes a personalidades políticas nacionais, independentemente da sua idade — há stickers para todos os gostos partidários.

De certa forma, todos temos pequenas Assembleias da República nos nossos telemóveis. Andamos com a democracia no bolso. Não sei até que ponto é que os cidadãos mais distraídos não receberam a notícia da demissão do primeiro-ministro através de um ou de vários stickers de WhatsApp. Fotografias de António Costa com frases jocosas não correspondem a peças jornalísticas, mas cumprem a mesma função, porque informam segundo uma posição de gozo esclarecido.

Porém, os stickers nem sempre são espelhos de infantilidades, ainda que o transpareçam. Num outro plano, os stickers também provam a existência de amizades. São assim tão amigos se não têm stickers comprometedores um do outro?

Hoje em dia, há stickers para tudo e é possível comunicar usando unicamente estas ilustrações digitais, independentemente do tema de conversa. Um grupo de amigos pode estar a discutir a situação política nacional, a comentar a arbitragem do Benfica-Sporting, ou a combinar um almoço durante o dia de trabalho, que stickers vão ser enviados, porque eles, bem ou mal, cobrem todas as situações da vida em sociedade.

Numa primeira impressão, não passam de piadas próximas dos memes, mas, se os analisarmos com a atenção que merecem, percebemos que são simplificadores de mensagens, pertencendo a um mundo no qual as pessoas têm cada vez menos tempo para parar e pensar.

Na segunda declaração que dirigiu aos portugueses, António Costa disse que um primeiro-ministro não tem amigos. É pena. Não sabe os stickers que andou a perder nos últimos oitos anos de governação.

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