Uma toupeira cega e esquiva que se julgava extinta reapareceu após três anos de buscas

Chama-se toupeira-dourada-de-Winton, é cega e um animal bastante esquivo que se julgava extinto. Agora foi (re)encontrada na África do Sul, numa expedição do Endangered Wildlife Trust.

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Toupeira cega que se pensava estar extinta desde 1936 foi encontrada na África do Sul após uma busca de três anos Nix Souness/Endangered Wildlife Trust
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Toupeira cega que se pensava estar extinta desde 1936 foi encontrada na África do Sul após uma busca de três anos Endangered Wildlife Trust
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Uma toupeira cega que se pensava estar extinta desde 1936 foi recentemente redescoberta nas dunas de areia da África do Sul usando eDNA — uma técnica que recolhe células da pele que as criaturas vivas perdem "enquanto estão ocupadas com a sua vida", disse o líder da expedição.

A redescoberta da toupeira-dourada-de-Winton​ oferece a oportunidade de aprender mais sobre um pequeno mamífero que, até à data, tem sido pouco compreendido pela comunidade científica. Oferece também a oportunidade de reforçar os esforços de conservação desta criatura esquiva e dá esperança aos esforços para encontrar outras espécies que os cientistas presumem estarem extintas, disse Cobus Theron, gestor sénior de conservação da Endangered Wildlife Trust e líder da expedição.

Mas tentar encontrar o pequeno companheiro tem sido como um desafio de whack-a-mole (caça à toupeira: jogo popular em que temos de rapidamente apanhar toupeiras que vão aparecendo em vários locais de um tabuleiro) no salão de jogos da natureza.

"É muito difícil compreendê-los porque passam a maior parte da vida debaixo da terra", disse Theron ao The Washington Post. "Têm músculos abdominais incríveis e têm braços muito fortes, semelhantes a pedais, para se deslocarem na areia. Dependem inteiramente da audição para caçar, por isso devem ter uma audição soberba."

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Redescoberta da toupeira dourada de De Winton Endangered Wildlife Trust

O artigo que relata a busca da toupeira-dourada-de-Winton​ foi publicado a 24 de Novembro na revista científica Biodiversity and Conservation. Para encontrar o misterioso mamífero, a equipa de Theron, do Endangered Wildlife Trust e da Universidade de Pretória, utilizou uma tecnologia revolucionária chamada eDNA, ou seja, o ADN ambiental que os animais libertam nos seus ecossistemas.

A equipa de Theron recolheu amostras de areia ao longo das praias e dunas da costa noroeste da África do Sul — o único local onde a toupeira dourada de De Winton tinha sido vista anteriormente — e depois a equipa peneirou essas amostras num laboratório para isolar o eDNA.

Para diferenciar a toupeira-dourada-de-Winton​ de outras espécies de toupeiras, a equipa utilizou uma amostra de ADN que tinha sido mantida por um museu sul-africano durante décadas.

Quando a equipa comparou as suas sequências de ADN electrónico com a amostra, verificou-se uma clara correspondência com a toupeira dourada de De Winton, segundo o seu estudo.

"Isto pareceu-me algo que poderia mudar o jogo", disse Theron. "Se a técnica pudesse encontrar a toupeira-dourada-de-Winton​, poderíamos usá-la para qualquer uma das toupeiras douradas."

Desde então, a equipa já apanhou pelo menos uma toupeira-dourada-de-Winton e fotografou-a. Theron pretende utilizar a técnica de eDNA para continuar a mapear o habitat da criatura e assegurar a sua conservação face aos desenvolvimentos residenciais e à exploração mineira em curso. "Precisamos de proteger o habitat. Essa é uma prioridade absoluta", disse Theron. "O estudo e a compreensão vêm depois,"

O esforço de três anos da equipa de Theron para encontrar a toupeira-dourada-de-Winton​ "é uma história de esperança", acrescentou Theron. "Mostra que ainda há oportunidades — mesmo nos dias de hoje — para descobrir coisas novas, aprender mais e conservar mais."

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Redescoberta da toupeira dourada de De Winton Nix Souness/Endangered Wildlife Trust

E surge poucas semanas depois de os cientistas terem anunciado que tinham documentado a existência de outro mamífero que se pensava ter desaparecido, a equidna-de-attenborough, durante uma expedição à província da Papua, na Indonésia. Um grupo de cientistas da Universidade de Oxford registou imagens do mamífero que põe ovos — que só tinha sido avistado uma vez, em 1961 — com câmaras de rastreio remoto que instalaram neste Verão nas inóspitas montanhas Cyclops.

"A equidna-de-attenborough tem os espinhos de um ouriço-cacheiro, o focinho de um tamanduá e as patas de uma toupeira", afirmou James Kempton, o biólogo de Oxford que liderou a expedição, num comunicado. "Devido à sua aparência híbrida, partilha o seu nome com uma criatura da mitologia grega que é metade humana, metade serpente."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post