Tons de verde: Um laboratório de biodinâmica, entre as vinhas da Aphros Wine

É numa casinha sem luz nem tecnologia, diante das vinhas da Quinta do Casal do Paço, que Vasco Croft faz os preparados que usa para proteger e fortalecer as vinhas da Aphros desde 2006.

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A Aphros Wine dedica-se há 17 anos à produção de vinhos em modo biodinâmico. Anna Costa
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A chave de tudo é o equilíbrio. A noção vem regularmente a lume numa conversa com Vasco Croft, em especial quando o arquitecto que se tornou produtor de vinhos tem de explicar, pela enésima vez nos 17 anos que leva já neste campo, o que é, ao certo, a agricultura biodinâmica. A conversa daria pano para mangas – “as bases da biodinâmica são nove dias de conferências, de manhã à noite”, alerta –, pelo que a conversa começa logo pelo final: os preparados utilizados para proteger e fortalecer as vinhas da Aphros, que produz neste regime desde 2006.

Por detrás da adega da Quinta do Casal do Paço, propriedade que está na família de Vasco desde o século XVII, chama a atenção uma casinha isolada de madeira pintada de vermelho, plantada diante da vinha. “É importante que cheguem ainda de dia”, avisou de antemão o enólogo Miguel Viseu, “o laboratório não tem electricidade”. Não tem, de facto. “Por causa das radiações”, explica Vasco. “Tudo quanto seja aparelhos emite radiação.” Há mesmo preparados que estão fechados em caixas de madeira com isolamento que os resguarda dessa eventual exposição.

Por dentro, o exíguo cubículo lembra um gabinete de boticário, com vários frascos de preparados coloridos. O preparado 500, cor de terra, é feito com bosta de vaca fresca, compostada dentro de cornos ocos, debaixo da terra – “dá ao solo informação para fazer bons processos húmicos e estimula o desenvolvimento e a absorção de nutrientes” nas plantas. Ao lado, um pó branco, o preparado 501, quartzo moído que “maximiza o processo da fertilidade e é um intensificador de fotossíntese”. E os preparados à base de plantas medicinais, que serão inoculados nos preparados de composto. “São feitos de plantas que nascem em condições extremas e desenvolvem estratégias vitais para conseguirem viver em equilíbrio.”

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Os extractos hidroalcoólicos resultantes da maceração de plantas como cavalinha ou salgueiro em aguardente ajudam a videira a lidar com o excesso de humidade e com fungos. Anna Costa

Há ainda uma série de extractos hidro-alcoólicos, que resultam da maceração de plantas como a cavalinha (“especializada em evaporação”) ou o salgueiro (“rico em ácido salicílico, reforça o sistema imunitário das plantas”) em aguardente destilada do vinho ali produzido. Uma vez mais, o equilíbrio. E a noção de ciclo. Virtuoso, neste caso, mas Vasco também puxa pelos ciclos viciosos. “Se os solos estiverem fracos, as plantas enfraquecem, logo ficam susceptíveis a pragas, combatidas com produtos de síntese que apenas curam o sintoma. Esses produtos vão intoxicar os solos, que ficam ainda mais fracos.”

Na Aphros, não são usados químicos de síntese, privilegia-se a prevenção em vez da cura. “O que nos protege da doença não é o comprimido” – Vasco é dado a metáforas entre a terra e o corpo humano. “É dormir bem, ter bons amigos e uma boa vida familiar, comer e beber bem.” Nesse sentido, as vinhas da Aphros têm uma vidinha santa.

Aphros Wine
Rua da Casa Nova, 374, Refoios do Lima (Ponte de Lima)
GPS: 41.7828, -8.5619
Tel.: 914120480
Web: aphros-wine.com
Visitas com prova a partir de 30 euros por pessoa


Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.

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