É provável que esta crónica tenha o mesmo timing que a maior parte das medidas para contrariar as alterações climáticas. Já vem atrasada. É como montar a árvore de Natal a meio de Dezembro. Ainda vale a pena, escrever e montar, seja o que for.
Livres da covid-19 (das notícias, não da doença), não nos livramos de uns quantos jantares de amigo secreto. Ou inimigo. O conceito é o mesmo. Presentes com um valor máximo. Presentes por um dia que ficam ausentes a vida toda.
E sempre que há um destes convívios, há sorteios aleatórios de pessoas. E quem nos vai calhar? Gostamos dela? Toleramos? Evitamos? Está na hora de lidar com isso e escolher um presente que não significa nada. Claro que, se for alguém de quem gostamos, até podemos rebentar o habitual orçamento de dez euros. Mas e quando isso não acontece?
Até podemos ter uma ideia gira para um presente que a pessoa vai mesmo gostar, mas esta crónica é sobre tudo o resto. Sobre não conhecer o destinatário do presente. E não conhecer vai desde procurar o LinkedIn para saber o cargo da pessoa, até ao colega do lado com quem não trocamos mais que um bom dia e até amanhã.
Vamos todos às mesmas lojas, aquelas que não é preciso mencionar. Compramos “bugigangas” sem sentido, sem utilidade. Só por uma graça ou sem graça nenhuma. É um desperdício consumista que nos afecta pouco na carteira, mas continua a aleijar muito o ambiente. É mais plástico inútil que não se vai desfazer nunca até o mundo explodir.
Esta crónica não serve para julgar ninguém, nem é um apelo ao boicote dos amigos secretos. Até porque é sempre chato ser o “desmancha-prazeres” do momento. Quem nunca ouviu um “vou ao jantar, mas não quero participar” que embrulhe o primeiro presente.
Vamos jantar, vamos ser amigos e inimigos secretos, mas vamos também ser amigos do planeta. Tentar, pelo menos. E como? Com presentes que realmente agradáveis, como uma garrafa de vinho, ou uma cerveja artesanal portuguesa. Respeitam o orçamento e são consumíveis. É um presente que também dura pouco, mas sabe bem.
Talvez o parágrafo anterior seja dedicado a presentes alcoólicos. Há outras opções. Uns pastéis de Belém, rissóis de leitão ou latas de atum. Depende dos gostos. Não tem a mesma graça, mas pelo menos é original. E caso o jantar não seja grande coisa, já há petisco para o caminho.
Agora, se vamos manter a habitual ida às lojas do costume, procurar coisinhas engraçadas, porque não oferecer meias, que já é boa ideia? Há muitas e giras, grossas ou finas, pequenas e longas. O tamanho aqui também não importa, há quem goste de tudo.
Quem diria que oferecer meias se ia tornar numa irreverência que tantas pessoas apreciam. As avós do nosso mundo foram visionárias. Foram as hipsters desta tendência que se mantém por mais um ano.
E quem sou eu para recomendar o que quer que seja? Ninguém, mas acabei de comprar um presente nessas lojas e fiquei a pensar no assunto. Não quero recomendar nada a ninguém. Queria só ter uma crónica com a palavra “bugigangas”. E este é o meu presente de Natal.