O racismo é mais do que atitudes discriminatórias individuais e ser-se anti-racista é mais do que advogar que deve existir mais representatividade de pessoas negras nos media.
O racismo é todas as desigualdades enraizadas em narrativas e estruturas de poder que beneficiam os mesmos de sempre, é um sistema de opressão, e ignorar este genocídio, bem como a forma como (não) tem sido retratado nos media, é um típico comportamento racista.
Primeiro, porque expõe o preconceito na forma como nós reagimos a eventos globais. Ninguém teve nenhuma hesitação em falar sobre o 11 de Setembro, ou sobre o “Je suis Charlie”, ou a invasão da Ucrânia — e bem! Mas, de repente, com a Palestina, existe muita hesitação e é demasiado complexo para sequer tentarmos entender.
Existe uma crónica falta de perspectiva baseada na tendência ao eurocentrismo. De repente, não podemos fazer nada, não nos queremos “expor” e não conseguimos perceber. Não é connosco.
Não é inocente que os telejornais continuem a falar do conflito Israel-Hamas e não Israel-Palestina, nem que os Estados Unidos financiem Israel e exerçam o seu direito de veto a favor de Israel no Conselho de Segurança da ONU.
Não é inocente que países da UE continuem cúmplices e subscrevam resoluções sem exigir um cessar-fogo nem aplicar sanções a Israel, ou que insistam que Israel tem o “direito de se defender” mas não falem sobre como é que povo palestiniano tem o direito de se libertar e resistir.
Segundo, porque “o teu silêncio tem uma audiência.” — quem o disse foi Hasanain Jaffer, educador para a justiça social. Desafio-vos a, genuinamente, tirarem um minuto e pensarem: “Quem é a audiência do meu silêncio?”.
Quem é que estou ou estamos a tentar “agradar” ou “não chocar” ao não falar sobre a Palestina? Ou simplesmente questionarem de onde é que vem um certo medo ou culpa por se quererem pronunciar em relação ao genocídio na Palestina.
Os outros eventos, guerras, atrocidades e actos terroristas a que fomos expostos também eram, seguramente, complexos. Mas nós falámos na mesma, sem sentir “medo”, porque, no fundo, ainda existem algumas coisas simples de entender: como o facto de Israel ser um Estado terrorista.
Além de ignorar apelos de cessar-fogo, impedir a ajuda humanitária a um povo sem água, comida e medicamentos, destrói infra-estruturas e casas, bombardeia escolas, hospitais e ambulâncias, invade o território e comete crimes de guerra contra vítimas inocentes. Neste caso, como em tantos outros, é simples entender quem é o opressor e o oprimido. Porquê o silêncio?
Por último, porque o nosso silêncio é exactamente a resposta que um poder colonial quer. E isso faz de quem escolhe o silêncio, consciente ou inconscientemente, complacente com o projecto colonial em curso.
Tendo em conta o sistema do qual fazemos parte, e por mais que isso nos deixe desconfortáveis, todos temos um bocadinho de racismo em nós — eu incluída. Temos de nos esforçar por ser melhores, por ter a coragem de aceitar esta realidade, e desconstruir esses nossos preconceitos (muitas vezes inconscientes).
Neste momento, escolhermos o silêncio é internalizar (conscientemente) a desumanização das pessoas palestinianas. Sermos silêncio é sermos parte da opressão. Especialmente porque todos temos, na verdade, acesso ao que se está a passar. Temos listas de recursos educativos criados e distribuídos gratuitamente.
Acima de tudo, temos as histórias da linha da frente. Jornalistas palestinianos, médicos, e outros criadores de conteúdo continuam a arriscar a vida para nos informar. O nosso silêncio significa cumplicidade com o assassinato de dois milhões de pessoas inocentes.
Temos de ser melhores. Temos de ser anti-racistas. Temos de falar mais, e mais alto, e repetir sem hesitação: Palestina Livre!