Os parques demasiado infantis

Vemos demasiadas réplicas de soluções tipificadas, sem nada que distinga um parque do outro, quase sempre dominado por plásticos coloridos e por soluções sem lógica lúdica.

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Megafone P3: Os parques demasiado infantis Kenneth Johnson/Pexels
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Se há equipamento público com enorme popularidade são os parques infantis. Vemos uma procura enorme pelas famílias, especialmente nos centros urbanos onde escasseiam habitações com boa relação entre o espaço interior e exterior. Mesmo quem viva em espaços desafogados, tendo crianças, vai procurá-los.

Sempre que há uma inauguração de um novo parque, é enchente garantida. Mas quando se trata de uma substituição, nem sempre o que surge de novo é melhor e mais interessante.

O alarmismo e excessos de proteccionismo podem levar à redução do potencial lúdico dos espaços. Vemos demasiadas réplicas de soluções tipificadas, sem nada que distinga um parque do outro, quase sempre dominado por plásticos coloridos e por soluções sem lógica lúdica. Os parques tendem a responder apenas às crianças mais pequenas, ficando rapidamente desadequados para idades acima dos dez anos.

Faltam-nos parques para fomentar a vivência ao ar livre e a interacção social. Uma família com vários filhos terá dificuldade em encontrar um parque/conjunto que possa agradar a todos, pensado igualmente nos pais. Sim, porque estes espaços poderiam ser verdadeiramente adaptados para todas as idades, incluindo adultos e idosos.

Nada impede um adulto de apreciar um escorrega ou balouço. Aliás, alguns jovens e adultos invadem os parques infantis para poderem continuar a ter essas experiências. Mas porque não garantir isso à partida? Porque abdicamos dessa forma lazer nos espaços públicos? Porque escasseiam os parques públicos que possam efectivamente responder a todas as idades? Alguns países estão a começar a garantir isso, quer em parques formais, quer através do urbanismo táctico em que se tenta devolver partes das cidades às pessoas, incluindo zonas de lazer abrangentes, inclusivas e inovadoras.

O que me parece mais bizarro é a falta de visão política generalizada, especialmente do poder local. Parques e afins que possam servir todas a população teriam seguramente aceitação social, mais ainda se essas soluções fossem além da tipificação e generalização para potenciar o património local.

Seria um óptimo marketing territorial. Desperdiçamos as encostas onde poderíamos criar escorregas naturalizados, ignorando o paisagismo e as soluções baseadas na natureza para criar espaços de lazer e recreio.

Ciclovias, rampas de skate, escalada, campos de desporto, lagos, espaços de jogos, tantas e tantas coisas que podiam marcar a diferença e garantir sustentabilidade. Ter espaços multifunções abertos e em colaboração com os movimentos e instituições que inovam na área lúdica.

Casos onde se possa fazer deporto, jogar jogos digitais, analógicos e híbridos. Proporcionar espaços para Live Action Role Play (LARP) em que se podem simular fisicamente ficções em interacção directa entre pessoas e o ambiente, escape rooms (que podem ser no exterior) e muitos outros formatos. São apenas alguns exemplos.

Precisamos de espaços para que o lazer possa ser mais activo, ligado ao entretenimento e a saúde física e mental das populações.

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