Inteligência Artificial para Crianças
Saúde e educação são duas vertentes onde a IA terá impacto profundo na vida das crianças. Em ambos os sectores, as considerações éticas, de segurança e impacto no uso da IA são cruciais.
Há uns dias fui contactada por uma startup tecnológica, de Londres, para conduzir um workshop, de team building sobre design centrado na criança. A sua missão é desenvolver soluções de Inteligência Artificial (IA) numa abordagem “criança primeiro”.
A empresa oferece terapia assistida para crianças com dificuldades na linguagem, fala e comunicação, combinada com a prática em casa, e visa democratizar o acesso a tratamentos personalizados, no sistema de saúde britânico (NHS). Tais aplicações de IA impulsionam o desenvolvimento das crianças, utilizando o reconhecimento de fala, o processamento de linguagem natural, grandes modelos de linguagem, companheiros virtuais (chatbots) e reconhecimento facial e emocional.
Na ambivalência entre estranheza e excitação que a tecnologia de IA ainda nos causa, que já facilita a nossa vida diária como quando desbloqueamos os nossos telemóveis com reconhecimento facial ou usamos assistentes virtuais como a Siri, há mais de uma década, os algoritmos sugerem nas redes sociais conteúdo personalizado (grande parte gerado por IA) e as nossas amizades.
Enquanto nos deslocamos, ditamos mensagens ou listas de compras; ouvimos músicas selecionadas por algoritmos, enquanto outros detectam fraude nas nossas contas bancárias; usamos aplicações para monitorizar o trânsito e a nossa casa “inteligente” permite-nos ligar o aquecimento na app partilhada com a família. Alguns de nós até vão dormir com a IA a monitorizar o sono!
Como é que, neste caso, a IA intersecta o design centrado na criança?
1. Personalização: a hiper-personalização da aprendizagem ao estilo e ritmo da criança em atividades e experiências;
2. Companheiros virtuais e gamificação: de forma orientada, motivam e aumentam a autoconfiança, com recurso à narrativa e a significado — as crianças aprendem melhor através da emoção e do jogo;
3. Multi-dimensão: a IA beneficia as crianças em diversas áreas das suas vidas;
4. Co-criação e a interação social: a compreensão e aprendizagem mútua e colaboração educativa humano-robô, onde a criança adquire competências sociais, empatia e inteligência emocional;
5. Inclusividade: a IA tem o potencial de promover a inclusão de crianças com necessidades especiais.
Onde é urgente intervir em relação à IA?
Saúde e educação são duas verticais significativas onde a IA terá um impacto profundo na vida das crianças. Em ambos os sectores, as considerações éticas, de segurança e impacto no uso da IA são cruciais e devem ser meticulosamente trabalhadas por governos e organizações para garantir resultados equitativos e positivos para todas as crianças.
O sistema educativo tem de abraçar a IA, enquadrar a tecnologia, incorporando-a de forma a empoderar as crianças e jovens para o futuro, educando para a segurança, literacia e pensamento crítico. O Relatório de Riscos Globais de 2024 do Fórum Económico Mundial identifica a desinformação e a informação falsa como os riscos mais prementes, e a urgência de equipar as crianças com a habilidade de distinguir factos de ficção.
A democratização da IA é um dos grandes desafios da educação contemporânea. Por um lado, é crucial desenvolver novos currículos que abordem a literacia e a disciplina digital e integrar a IA no ambiente escolar. Por outro lado, é necessário regulamentar e dar particular atenção a questões éticas, de direito e à orientação parental, para mitigar riscos e promover hábitos saudáveis e seguros no uso da tecnologia.
Conclusão
A interseção entre a IA e o design centrado na criança tem um potencial transformador na vida das crianças, posicionando o design entre a tecnologia e o utilizador, para inventar e reinventar o futuro, testar ideias, e garantir a melhor estratégia para estabelecer a relação entre o humano e a máquina, em iterações contínuas ao longo do ciclo de vida do produto.
O design centrado na criança vai além da funcionalidade, é o compromisso em colocar as necessidades, direitos e experiências das crianças na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. Há cada vez mais empresas e organizações genuinamente interessadas em questões urgentes da sociedade e em torná-las significativas para crianças e pais, promovendo mudanças impactantes na sociedade e as bases para um futuro mais sustentável, resiliente e inclusivo.
E, como neste assunto os pais têm tantas ou mais perguntas do que as crianças, fica a sugestão do livro Olá robot! A inteligência artificial no teu dia a dia, da Cosicosa, com ilustrações da designer Ana Seixas e explicações simples mas exaustivas, numa análise abrangente da IA.
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A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990