Houve um tempo em que para chegar ao Algarve era preciso atravessar o Ameixial. Camiões, autocarros, o correio, “tudo passava e parava aqui” quando a Estrada Nacional 2 (EN2) ainda era o principal acesso para quem vinha de Lisboa. A aldeia vivia desse trânsito de pessoas e de mercadorias, de ser pausa antes ou depois do suplício da légua final, de repente infinita no compacto de curvas e contracurvas da serra do Caldeirão, um muro no horizonte que obrigava os autocarros a deixar um balde à janela para responder aos estômagos mais sensíveis; e que ainda hoje leva a dona Maria, no Café Central, o único restaurante do Ameixial, negócio familiar e carismático, paragem obrigatória para quem aprecia boa comida de tacho e tascas à antiga, a anunciar que as favas que comeremos ao almoço ainda não são as dela, “são favas do Algarve”, ainda que no Algarve já andemos oficialmente desde que vencemos a ribeira do Vascão, essa sim, fronteira psicológica e cartográfica com o Alentejo.
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