Revolução apanhou de surpresa movimentos de libertação de Angola
Em Abril de 1974, todos combatiam o colonialismo português, de formas diferentes mas com um denominador comum: encontravam-se enfraquecidos política e militarmente.
O golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 apanhou de surpresa os três movimentos de libertação de Angola. O que indica que, apesar dos contactos internacionais dos seus dirigentes, os três estavam longe de imaginar o que iria acontecer. Só assim se compreende as acções dos seus líderes nas horas e dias que antecederam e se seguiram ao 25 de Abril.
Agostinho Neto, presidente do MPLA, encontrava-se no Canadá, com a esposa, Maria Eugénia Neto, e com uma delegação do movimento composta por Pedro de Castro van-Dúnem “Loy”, Carlos Rocha “Dilolowa” e Saidy Mingas. Foram recebidos pelo Governo do Canadá, pelo parlamento e por diferentes associações cívicas e políticas, em Otava e no Quebeque. O presidente da FNLA, Holden Roberto, encontrava-se em Kinshasa, no Zaire, onde residia desde 1961.
O líder da UNITA, Jonas Savimbi, nas matas do Moxico, tentava quebrar um acordo com a tropa portuguesa, assumido no ano anterior, através da Operação Madeira, que lhe assegurava uma colaboração com os portugueses. Sentindo resistência por parte das autoridades coloniais em manter esse entendimento, Jonas Savimbi mobilizou todo o arsenal que lhe restava para atacar duas posições portuguesas, em Dueja e Kuete, no Alto Cuíto. Azar dele: a batalha acontece a 26 de Abril de 1974 e foi, ironicamente, a emboscada mais eficaz e mais terrível protagonizada pela UNITA. Morrem 19 soldados no ataque liderado pelo comandante Lumumba, que começa a tornar-se um mito.
Em Abril de 1974, todos combatiam o colonialismo português, de formas diferentes, com apoios diferenciados e com estratégias distintas, mas com um denominador comum: encontravam-se enfraquecidos política e militarmente. Uma fraqueza que já era visível desde o início da década e que se foi acentuando entre 1970 e 1973. A convicção do comando militar português era de que a guerra em Angola, ao contrário do que se passava na Guiné-Bissau, estava ganha.
Em finais de 1973, Portugal tinha mais de 149 mil militares em diversas frentes: Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Em 13 anos de guerra, foram mobilizados cerca de um milhão e 400 mil militares nas Forças Armadas portuguesas. Um terço saiu do recrutamento local entre africanos de origem e descendentes de colonos. Na contabilidade portuguesa, foram recrutados 1.367.896 homens. Destes, 443.649 eram provenientes do recrutamento local.
De acordo com as análises dos comandos portugueses, a guerra na Guiné-Bissau estava “praticamente perdida” e o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) até já tinha declarado, em Setembro de 1973, unilateralmente a independência. Em Moçambique, a tensão maior registava-se no Norte, onde as forças portuguesas denotavam maiores fragilidades.
Do contingente português, foi significativa a alteração de estratégia que o próprio rumo das guerras em três teatros acabou por impor: em 1961, do total de militares portugueses em África, 14,9% dos efectivos estavam colocados em Angola, 21,1% na Guiné-Bissau e 26,8% em Moçambique. Nos finais de 1973, Angola já tinha 42,4% dos efectivos, 20,1% combatia na Guiné-Bissau e 23,6% em Moçambique. O restante 13,9% dividia-se pelo território português e por reduzidos contingentes em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
A análise militar concluía que a FNLA se encontrava confinada à fronteira com o Zaire; o MPLA estava reduzido militarmente e debatia-se com problemas internos, entre rivalidades, traições e ambições pessoais de poder; e a UNITA limitava-se a estar manietada pelos acordos com os portugueses.
O historiador Jean Martial Arsene Mbah faz notar que, nas horas e dias que se seguiram ao 25 de Abril, nenhum dos movimentos "manifestou de imediato qualquer sinal de alegria em relação ao golpe. Pelo contrário, a nova situação incitou-os a uma maior prudência, na medida em que a posição das novas autoridades do país, sobre a descolonização e o reconhecimento do direito à independência dos povos africanos, não se manifestava de maneira explícita". Essa prudência indica que, de todo, os três movimentos desconfiavam das intenções dos autores do golpe. Ou seja, não os conheciam, nem tinham sido prevenidos de que estaria iminente a queda do regime.