Comida é um tema sensível num país poliamoroso à refeição. É quase impossível não estar num almoço a falar de outro, ou a comer peixe grelhado e a recordar uma certa feijoada. Talvez seja este amor que inspirou restaurantes a incluir pratos desastrosos como “alheira vegetariana” ou “bitoque de cogumelos”.
O desastre não está no sabor. Acredito que sejam ambos muito saborosos, mesmo sem gostar de alheira. O problema é o nome. É a falta de criatividade e visão para a oportunidade de fazer baptismos de pratos que ainda não têm nome.
Quase me choca que um país tão católico esteja com preguiça de abençoar novas receitas. Até porque, à partida, todos estes pratos vegetarianos com carência de nome vão ser a estrela da festa em cada sexta-feira santa.
Eu como carne e peixe esporadicamente e marisco sempre que posso. Dizem que o camarão é a barata do mar, e eu estou só a treinar para o momento em que vai entrar à força e cheia de proteína, a voar e de capa vestida: é o novo superalimento. Até lá, mantenho-me com gosto e numa tentativa constante de ser 99% vegetariano. Nunca gostei de coisas absolutas.
E sabendo que os meus hábitos alimentares não interessam a ninguém, quero apenas partilhar que ler menus com “francesinha vegetariana” dão-me vontade de ressuscitar a matança do porco. Eu nem sou fã de francesinha, mas sou o primeiro a defendê-la dessas versões alternativas, que gastam a criatividade toda nos ingredientes que cozinham para replicar aquele sabor, desprezando a possibilidade de lhe dar um nome novo. E merece porque, de facto, é uma receita diferente, é um prato novo.
Neste país à beira-mar plantado e que tanto orgulho tem na sua gastronomia, é fácil perceber o porquê de existirem tantos sítios a vender pratos típicos em versão vegetariana. Não muda o nome, não “muda” o sabor, e é assim que se levam mais almas ao mundo vegetariano.
É uma espécie de terapia de conversão, que pretende transformar carnívoros em herbívoros através das papilas gustativas e do orgulho gastronómico. Parece que é esta a principal motivação para sermos mais vegetarianos a luta, prato a prato, pela proteção dos animais, da preservação do ambiente, ou da (preencher com a causa que faça mais sentido para cada pessoa que esteja a ponderar os benefícios de ser vegetariana).
“Arroz de Pato Vegetariano” é arroz e é vegetariano, mas não é pato. É outra coisa. É seitan. É tofu. São brócolos. É outra coisa qualquer que tenta saber a pato quando se podia simplificar, sem perder o sabor, e chamar-lhe “Arroz Agrícola”. Os legumes cultivam-se e muitos agricultores também têm patos.
Não vou mentir. Eu tenho interesse em criar estes nomes novos para tantas receitas renovadas. Enquanto copywriter e fã de escrita criativa, anseio pela oportunidade de baptizar receitas. O verdadeiro título desta crónica era “a trend vegan tem falta de copy” só para dizer que estou aqui. Não pelo vegetarianismo, nem pelo ambiente, mas sempre pela criatividade.