Nascerá em Braga a mais cara residência universitária financiada pelo PRR

O investimento de 25,5 milhões de euros na antiga Fábrica Confiança, devoluta há quase 20 anos, vai dobrar o número de camas para estudantes em Braga.

Foto
O destino da antiga fábrica Confiança discute-se há mais de 20 anos. Agora será uma residência Nelson Garrido
Ouça este artigo
00:00
04:02

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Câmara de Braga aprovou, nesta segunda-feira, a adjudicação por 25,5 milhões de euros da construção de uma residência universitária, a custos controlados, na Fábrica Confiança. A reabilitação da antiga saboaria será financiada na totalidade com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tratando-se do maior investimento do plano para alojamento estudantil.

O projecto de requalificação da antiga Fábrica Confiança prevê a construção de uma residência universitária com 786 camas, destinada a estudantes da Universidade do Minho e do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), além da criação de um novo edifício, com uma área de cerca de 1200 metros quadrados, reservado a espaços museológicos e à venda de produtos da antiga saboaria.

No final da reunião pública de executivo desta segunda-feira, o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio (PSD), assinalou que o projecto é “emblemático para o concelho” e “vai gerar um grande impacto do ponto de vista da duplicação do número de camas que estão neste momento ao serviço dos estudantes de Braga e a deslocados”.

Uma vez que o financiamento resulta do PRR, o projecto “não carece do visto do Tribunal de Contas”, pelo que o próximo passo será a “elaboração de um projecto mais concreto durante um período de quatro meses”. A partir desse momento, a empresa vencedora do concurso público terá as condições para iniciar a obra, prevendo-se a inauguração da residência no início de 2026.

Mais de duas década depois, um destino

O destino da antiga fábrica Confiança discute-se há mais de 20 anos. O edifício inaugurado em 1921, e último testemunho do quarteirão industrial da zona oriental da cidade Braga, está devoluto desde 2005. Foi expropriado pela Câmara de Braga em 2011, sob a presidência do socialista Mesquita Machado, no valor de 3,5 milhões de euros.

Com a fachada preservada, mas o interior do imóvel degradado, a autarquia lançou, em 2012, um concurso de ideias para decidir o destino a dar ao equipamento, tendo sido determinado um projecto para acolher um hostel, uma incubadora de empresas, um centro de ciência, espaços de comércio e restauração e um núcleo museológico dedicado à produção de sabonetes e perfumes da empresa.

Dois anos depois, ano em que se celebrou o 120.º aniversário da criação da empresa Confiança, o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, eleito em 2013, assinalara que a reabilitação do edifício dependeria sempre de fundos comunitários. Em 2018, o autarca manifestara a intenção de alienar o edifício, apontando à falta de dinheiro depois da aplicação dos fundos comunitários nas requalificações do Fórum Braga e do mercado municipal.

A decisão de vender o edifício a privados pelo valor de 3,9 milhões de euros foi aprovada e motivou a contestação de várias associações da cidade, resultando na criação da plataforma Salvar a Fábrica Confiança. A plataforma interpôs uma providência cautelar, apontando ilegalidades urbanísticas e o argumento de que o edifício é o último que “testemunha o processo de industrialização da cidade de Braga dos finais do século XIX e inícios do século XX”, num local onde chegaram a existir uma sala de cinema e uma creche.

A disputa jurídica entre a autarquia e a plataforma cívica viria a adiar, sucessivamente, várias datas para a hasta pública e, no início de 2020, a Câmara Municipal de Braga decidiu apresentar um projecto para uma residência universitária privada com capacidade para 300 estudantes. Em Março desse ano, porém, a ausência de interessados levou a autarquia a recuar na intenção de alienar o imóvel e, em Outubro, o edifício acabaria até por ser classificado como monumento de interesse público.

O futuro do edifício ficou em suspenso até Julho de 2021, altura em que, graças ao PRR, a Câmara de Braga encontrou financiamento para reabilitar o imóvel. O concurso público foi lançado em Janeiro de 2023. O relatório final do concurso só foi apresentado nesta semana, uma vez que a classificação do imóvel enquanto monumento de interesse público, e que exige a salvaguarda da dimensão patrimonial do edifício, obrigou à obtenção prévia de pareceres favoráveis da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) e Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN).

Sugerir correcção
Ler 1 comentários