Pintura de Ticiano roubada e reencontrada em 2022 foi vendida por 20 milhões de euros

Pintada pelo jovem Ticiano, a pintura foi roubada em 1995 e devolvida sete anos depois. A pintura do mestre renascentista italiano foi arrematada exactamente por 20,6 milhões de euros.

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"Descanso na Fuga para o Egipto", de Ticiano Cortesia da Christie’s
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Uma pintura roubada de Longleat House, em Wiltshire, e encontrada sete anos mais tarde foi vendida por mais de 17 milhões de libras (20 milhões de euros) num leilão em Londres realizado na terça-feira à noite. A obra de Ticiano Descanso na Fuga para o Egipto foi roubada em 1995, antes de ser devolvida ao seu proprietário, Lord Bath, em 2022.

O valor de venda foi inferior à estimativa mais alta de 25 milhões de libras (29,5 milhões de euros). O leilão da Christie’s dedicado à pintura antiga, onde se destacaram também nas vendas obras de Quentin Metsys (12,5 milhões de euros) e Frans Hals (6,7), tem a sua segunda sessão marcada para esta quarta-feira à noite. A leiloeira afirma que se estabeleceram novos recordes para Ticiano e Metsys.

A pintura do mestre renascentista italiano foi arrematada por exactamente 17,56 milhões de libras (20,6 milhões de euros) — a estimativa de venda variava entre os 15 e os 25 milhões de libras.

Executada por Ticiano quando este teria pouco mais de 20 anos, a pintura Descanso na Fuga para o Egipto foi roubada do palácio dos marqueses de Bath em 1995 e reapareceu num saco de compras numa paragem de autocarro em Londres.

Pintada a óleo sobre um painel de madeira de 46,5 por 64 centímetros, esta representação de José, Maria e Jesus desfrutando um momento de repouso durante a sua fuga para o Egipto terá sido realizada por volta de 1510, e passara já por muitas mãos quando o quarto marquês de Bath, John Thynne, a adquiriu em 1878.

Em 1995, no tempo do sétimo marquês, a obra foi roubada de Longleat House, o palácio da família situado em Wiltshire (Sudoeste da Inglaterra), num assalto muito mediatizado na época, e cujo responsável nunca foi identificado. A família ofereceu uma recompensa de 100 mil libras a quem prestasse informações que conduzissem à recuperação da pintura, e esta acabou por aparecer em 2002, numa paragem de autocarro de Richmond, na área metropolitana de Londres, onde tinha sido deixada, já sem moldura, dentro de um vulgar saco de plástico.

A descoberta deveu-se ao então responsável da unidade de investigação de roubos de arte e antiguidades na Scotland Yard, Charles Hill, que já adquirira notoriedade pública pelo seu papel na recuperação de uma das versões de O Grito, de Edvard Munch, roubado em 1994 do Museu Nacional de Oslo, na Noruega.

A obra voltou então à família dos marqueses de Bath, e foi vendida pelo actual detentor do título, Ceawlin Thynn.

Antes de chegar a Longleat House a pintura de Ticiano teve muitos proprietários anteriores, devidamente documentados, como dá conta a leiloeira no seu site.

O primeiro proprietário conhecido foi um compatriota de Ticiano, o negociante de especiarias veneziano Bartolomeo della Nave, que morreu em 1632. A valiosa colecção do mercador foi então vendida por um irmão de Bartolomeo, Andrea, a James Hamilton, primeiro duque de Hamilton, num negócio intermediado pelo então embaixador inglês em Veneza, Basil Feilding.

Hamilton não teve muito tempo para apreciar o seu Ticiano, uma vez que, na sequência da Guerra Civil Inglesa, seguiu o destino do rei Carlos I e foi executado em 1649.

Descanso na Fuga para o Egipto foi então vendida ao arquiduque Leopoldo Guilherme da Áustria (1614-1662), um conhecido mecenas de artistas, de quem passou para sucessivos titulares do Sacro-Império Romano-Germânico, incluindo Carlos VI (1685-1740), a imperatriz consorte Maria Teresa da Áustria (1717-1780), ou José II (1741-1790). Durante o consulado deste último, a pintura de Ticiano foi transferida para o Palácio de Belvedere, em Viena, onde ainda estava quando foi saqueado em 1809 pelas tropas francesas, que levaram a obra para o Louvre.

Antes de chegar às mãos do quarto marquês de Bath, a pintura ainda passou pelas mãos de Hugh Andrew Johnstone Munro of Novar (1797-1864), um abastado coleccionador de arte escocês, que foi, ele próprio, um artista amador e que se conta entre os principais mecenas do pintor William Turner.

Nesta manhã de quarta-feira, ainda não era conhecido o actual proprietário da obra. Lord Bath declarou-se muito satisfeito com o resultado do leilão e prometeu aplicá-lo no futuro de Longleat House, divulgou a Christie’s.

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