Mbappé entrou ao intervalo e a França não perdeu

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1. No passado domingo realizou-se em França a segunda volta das eleições legislativas. Quando todos esperavam que a questão a decidir fosse a de saber se a extrema-direita alcançaria ou não a maioria absoluta, o eleitorado francês, surpreendentemente (?), operou uma “remontada” que conduziu o Rassemblement National ao terceiro posto da “tabela classificativa”, com 143 lugares, quando tinha dominado amplamente a primeira parte do “jogo”.

2. Surge-nos evidente que, para tal reviravolta, muito contaram diversos factores de natureza estritamente política que, por incompetência, não nos atrevemos a analisar. Mas registámos os comentários – na SIC Notícias - da Professora Raquel Vaz Pinto, a respeito das declarações públicas de jogadores franceses integrados na selecção que competia no Euro 2024 e também da França como um país do futebol.

3. A estrela das estrelas - para além da militância antirracista de Marcus Thuram e Jules Koundé -, porventura numa intervenção menos robusta, não deixou de aproveitar a conferência de imprensa para passar a sua mensagem aos compatriotas: “Mais do que nunca, é preciso ir votar [na segunda volta]. Não podemos deixar que o país caía nas mãos dessa gente. É urgente. O resultado é catastrófico, esperamos que as pessoas se mobilizem e votem do lado correcto."

“Quero dirigir-me a todos os franceses, em particular à geração jovem. Os extremos estão às portas do poder e nós temos a possibilidade de mudar isso”, continuou o capitão da selecção francesa, falando ainda de valores de “tolerância, respeito e diversidade”.

4. Estes factos contribuem para dois apontamentos. Em primeiro lugar, para tornar bem claro de que aquém do desportista ou agente desportivo, existe uma pessoa dotada da sua dignidade humana que se projecta também na vida desportiva.

No desporto federado para além dos direitos que legislação específica lhes atribuem, há tantos outros, fora desse universo – e por vezes em conflito com o mesmo - que os agentes desportivos titulam e podem (devem) exercer.

5. Por outro lado, o Comité Olímpico Internacional e as federações desportistas internacionais, vincam a natureza apolítica do desporto até à exaustão. Mas, do mesmo passo, hipocritamente e de forma contraditória, vão viajando consoante a força do vento, chegando ao ponto de, em alguns casos, aplicar sanções disciplinares ou determinar proibições. Noutras circunstâncias, tais organizações desportivas, não teriam olhado com bons olhos as declarações de Mbappé. Ou talvez não, gerando a incerteza no mundo do desporto, sempre cavalgando a falácia da natureza não política do desporto, querendo esquecer a sua inserção num cosmo carregado de política e de ideologia. Pretendem ser ilhas onde só há territórios não separados por água.

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