Doenças do cérebro, um problema de saúde pública

A lista de doenças que têm origem ou afetam o cérebro é enorme. São doenças diferentes, com múltiplas causas, que se manifestam por múltiplos sintomas e evoluem de forma diferente.

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Apesar do enorme interesse que sempre existiu sobre as doenças do cérebro, estas não têm sido olhadas como um verdadeiro problema de saúde pública, como tem sucedido, por exemplo, com as doenças cardiovasculares e algumas doenças infecciosas.

Um estudo recentemente realizado pela Organização Mundial da Saúde, e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, concluiu que o conjunto das doenças cerebrais (que incluiu 37 doenças) constituiu, em 2021, a principal causa de diminuição da esperança de vida saudável (número de anos que uma pessoa pode esperar viver de forma saudável, sem limitações ou incapacidades). Este grupo de doenças cerebrais afetou 3,4 mil milhões de pessoas (43% de toda a população mundial).

Estes problemas de saúde foram ainda responsáveis pela perda de 443 milhões de anos de vida saudável, devido a doença, incapacidade ou morte prematura. Foram, assim, o grupo de doenças que mais contribui para a carga global de doença, ficando “à frente” das doenças cardiovasculares. As doenças que mais contribuíram para esta perda de “anos saudáveis” foram os AVCs, a encefalopatia neonatal, a enxaqueca, a doença de Alzheimer e outras demências, a neuropatia diabética, a meningite, a epilepsia, as complicações neurológicas do parto prematuro, as doenças do espectro do autismo e os tumores do sistema nervoso.

O envelhecimento populacional também tem acarretado um aumento das doenças que apresentam como fator de risco principal a idade. Neste grupo, têm particular relevância doenças cerebrais como as demências e a Doença de Parkinson, cuja prevalência irá aumentar significativamente nos próximos anos.

Apesar de, muitas vezes, haver a percepção de que as doenças cerebrais não são preveníveis e dificilmente são tratáveis, esta ideia deve ser combatida, dado existirem muitos tratamentos altamente eficazes para muitas doenças neurológicas e muitas destas doenças poderem ser evitadas ou prevenidas através da mudança de hábitos e outros fatores de risco.

O enorme impacto que as doenças cerebrais têm na perda de anos de vida saudável obriga a olhar para estas patologias como um verdadeiro problema de saúde pública e a reconhecer a necessidade de um enorme investimento na definição de estratégias de prevenção, tratamento e reabilitação destes problemas de saúde.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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