A melhor escola é a aquela em que os alunos se superam

A discussão entre ensino público e privado continuará. Enquanto uns se digladiam pela luta ideológica, a prática faz com que a procura por escolas privadas bata recordes em democracia.

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As discussões sobre os rankings das escolas ou sobre os contratos de associação é recorrente e controversa no panorama educativo, mas não devia ser. A polémica deveria ser a realidade que leva aos rankings. E a discussão deveria ser sobre projetos educativos que só a autonomia da gestão confere. O que também deveria sobressair é que a melhor escola não é aquela que tem notas mais altas ou a da gestão privada; a melhor escola é aquela que faz com que os alunos se superem.

Evidentemente que não se pode comparar o que não é comparável, os rankings não devem ser meras médias aritméticas. Existem muitos outros fatores, como elementos de equidade e enquadramento socioeconómico, que permitem enquadrar e relativizar os resultados dos rankings.

Tenho defendido a necessidade de se avaliar para se poder corrigir. A monitorização serve, também, como contraponto a uma maior autonomia nas escolas. Esta questão insere-se numa cultura em que o problema da monitorização é mais amplo, porque não há, verdadeiramente, uma cultura estabelecida e uma prática de avaliação, de recolha e análise de dados, nem sequer para fundamentação das políticas públicas. É tristemente irónico que isto se passe numa área em que a avaliação é uma constante, mas que resiste a ser avaliada.

Há perguntas que não deveriam ser difíceis, mas que esbarram com a realidade. Queremos um Estado regulador ou um Estado diretor de escola? Uma escola é mais do que um refeitório ou um repositório de manuais. A escola, antes de tudo, é um local de aprendizagem, num espaço social, comunitário, de respeito e de convívio. É um espaço de liberdade, de descoberta e de realização. A escola não é apenas uma obrigação, mas é uma plataforma de expansão de horizontes, de modo a que, quando dela se sai, se tem o mundo inteiro pela frente.

Não tarda começa um novo ano letivo e será novamente altura de perguntarmos se é desta que começamos a ter um melhor sistema de educação, ou se mantemos um sistema que sobrevive alicerçado em super-heróis. Até pode haver algo de idílico na imagem que se cria, sobretudo quando somos mais pequenos, mas se isso pode fazer parte do imaginário infantil, não faz parte do ideário do que deveria ser um sistema educativo dedicado a ter os melhores como professores e a potenciar o melhor de cada criança e jovem, nas suas especificidades e independentemente das suas origens socioeconómicas. Este ano é o ano em que podemos começar a deixar de ter super-heróis e a acreditar que, a médio prazo, passaremos a ter um sistema educativo.

A discussão entre ensino público e ensino privado também continuará, infelizmente, para os alunos. Infelizmente porque, enquanto uns se digladiam pela luta ideológica, a prática faz com que a procura por escolas privadas bata recordes em democracia (para não falar dos centros de explicações.) Com o recente anúncio do Governo sobre a medida de reforço dos contratos de associação para robustecer a complementaridade entre oferta pública e privada, muita luta política se adivinha. Pena é que não se use essa veemência para a resolução de um fracasso há muito constatado – é que, não obstante as frases bonitas dos últimos anos, a realidade é dura: persiste uma enorme desigualdade, um elevador social avariado e a cristalização das origens, não estando a escola a cumprir com o desígnio de potenciador de igualdade de oportunidades e de mobilidade social.

Quando saem os rankings, a tónica é, em geral, negativa. O foco passa por se atacar os lugares cimeiros, em vez de se identificarem e perceberem os fatores de sucesso, e pouco ou nada se liga às variações negativas, por exemplo, no sentido de se ir buscar quem ficou para trás. Mas, afinal, qual será a melhor escola? Não será apenas ditada por um ranking aritmético, e implica, sim, a existência de avaliação. A melhor escola é aquela que permite que os alunos se superem, é uma escola que rompe com o determinismo da reprodução social.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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