Com que “mãe regresso às aulas” mais se identifica?

Com o arranque das aulas, há quem se empenhe em cada detalhe ou quem sofra por antecipação, mas também quem sinta alívio com a abertura dos portões da escola.

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EDUARDO MOSER/SANDRADESIGN
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Querida Mãe,

Chega setembro e com ele o meu Ano Novo. As minhas resoluções são feitas agora (e é nos meses de outubro e novembro que as deixo cair todas!). Já fui uma “Mãe Regresso às Aulas” de todos estes tipos, por isso posso assegurar-lhe que são bem reais.

Mãe PREPARAÇÃO

A ansiedade de mudança de rotinas e a angústia de fim de férias só tem uma solução: preparar! Comprar material escolar, plastificar freneticamente (e sem bolhas), pôr nomes em todos os lápis, preparar lancheiras, menus para a semana, etc. Ver as etiquetas em tudo traz alguma sensação de paz e controlo.

Mãe NÃO FAÇAS HOJE O QUE PODES FAZER AMANHÃ

Não quer nem ouvir falar da escola. No dia de ir, irão, até lá são férias. O tempo só começa a contar quando as aulas começam, por isso, só a seguir é que se encomendam os manuais ou se arranja material (há de certeza 12 lápis de cor por baixo de um sofá qualquer)!

Mãe POR FAVOR ABRAM AS PORTAS DA ESCOLA

O material, a preparação, é tudo irrelevante. O que não aguenta mais são as próprias das crianças. Paga o que for preciso, a quem for preciso, para abrirem os portões da escola, para poder deixar lá os seus “mais-que-tudo que, obviamente, ama incondicionalmente, mas que vai adorar ainda mais quando deixar de os ver por umas horas, para ter saudades”.

Mãe HOMESCHOOLING

Tem um prazer especial em ver toda a gente stressada com o início do ano sabendo que pode estender as férias escolares mais uma semana, que a “diretora” não se importa, e assim apanham os melhores dias de praia sem ninguém. Hiperventila durante a noite a pensar se será capaz de dar aos filhos tudo aquilo de que precisam, mas sente-se confiante durante o dia quando os vê felizes e interessados a trabalhar. Passa o fim das férias a justificar à família porque tomou a decisão do ensino doméstico e a provar por A mais B à mãe e à sogra que os filhos NÃO se vão tornar selvagens ignorantes.

Mãe NOSTALGIA

O mais importante nesta altura é tirar fotografias do Zé na mesma escada onde as tirou quando entrou para o 1.º ano, há 11 anos. Todos os filhos são finalistas (de alguma coisa), ou estreantes (noutra coisa qualquer). Há posts queridos e lamechas no Instagram, há lágrimas contidas e incontidas e roupas especiais para cada ocasião!

Mãe SOUFFLÉ

Rija e tranquila no exterior, um lodo de ansiedade e moleza no interior. Diz coisas como Ah, claro, vai para o público, que é para aprender a desenrascar-se, ri-se de todos os grupos de pais do WhatsApp e das mães que sabem as notas dos filhos, mas intimamente está numa angústia, comparando-se a si e aos seus filhos com tudo e com todos. Desvaloriza a professora que gritou ao miúdo, mas como quem não quer a coisa marca uma reunião com a diretora.

Mãe, identifica-se com alguma? Eu este ano estou num blend chiquíssimo de várias. Dependendo dos filhos e das horas do dia! Mas há uma coisa constante: dá sempre vontade de comprar cadernos, iluminadores e borrachinhas, não dá? Maldito marketing!

Bjs


Ai, Ana!

Que saudades que tinha de ti, das nossas Birras, das nossas conversas por carta. Porque, na realidade, acho que, durante este mês de agosto todo, não trocámos mais do que umas palavras de seguida, porque havia sempre muitas crianças e confusão pelo meio. Mas já de ser mãe de filhos em idade escolar não tenho nenhumas.

Confesso que, em setembro, fui sempre mais do tipo Mãe Abram as Portas da Escola, desejosa de conseguir voltar a ter um pensamento com princípio, meio e fim, sem a canseira de andar a inventar programas e a levar-vos daqui para ali, e dali para aqui.

Além disso, nunca consegui forrar um único caderno, muito menos sem bolhas, e a ideia de homeschooling nem me passava pela cabeça. E de cada vez que decidia que vocês precisavam mesmo de um dia em casa, para curar uma doença ou descansar, já estava arrependida ao meio dia.

Todas as manhãs, mas são mesmo todas, sem exagero, abro um olho pelas sete horas e, antes de voltar a adormecer, dou graças a todos os santinhos por não ter de ir arrancar crianças da cama, vesti-las e (tentar) dar-lhes o pequeno-almoço entre birras e protestos, começando a correria louca para os entregar na escola.

Por isso, vai lá tu, e depois dá-me notícias (se forem boas!).


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990.

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