Trompetista Gileno Santana vai tocar pela primeira vez com uma orquestra clássica

Brasileiro de nascimento, e a viver há duas décadas em Portugal, o trompetista de jazz Gileno Santana toca esta quinta-feira em Amarante com a Orquestra do Norte. Um concerto inédito.

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Gileno Santana DR
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Trompetista, arranjador, professor, brasileiro e também português, a viver há duas décadas em Portugal, Gileno Santana tem feito um caminho assinalável no jazz mas é com uma orquestra clássica, a Orquestra do Norte, que se apresenta ao vivo esta quinta-feira, em Amarante, num programa feito à base de clássicos do repertório popular brasileiro, com arranjos apropriados.

Nascido no dia 5 de Maio de 1987 em Salvador da Bahia (tem 37 anos), Gileno iniciou-se cedo na música. “Comecei aos 13 anos e já sabia que ia ser músico”, explica ao PÚBLICO. “É daquelas intuições de um manifestador nato, já saber aquilo que quer.” Começou a estudar trompete numa Banda de Música do interior do Ceará e veio depois a integrar uma banda da Bahia (a sua mãe é cearense e o pai baiano), que fez uma tournée pela Europa. Foi a primeira vez que Gileno conheceu Portugal. “Nessa altura conheci aquela que é hoje a minha madrinha de casamento, Natália Machado, e disse-lhe que o meu maior sonho era vir estudar fora do Brasil, porque naquela altura não havia lá escolas de música popular”. Regressou ao Brasil e, um dia, teve uma surpresa: a sua madrinha tinha-o matriculado no Conservatório de Lisboa.

Foi então que voltou a Portugal, dessa vez para ficar, até hoje. Tinha nessa altura 17 anos, quase a completar 18. “Desde então Portugal é a minha casa”, afirma. Casado com uma portuguesa, obteve dupla nacionalidade, portuguesa e brasileira. Quanto ao estudo, como 17 anos era já uma idade avançada para iniciar o Conservatório, acabou por não entrar. “E foi aí que a minha história mudou. Eu tinha aulas esporádicas com o João Moreira no Hot Clube e ele desafiou-me a ficar lá, a estudar jazz. Quando percebi que havia um curso de jazz no Porto, mudei-me para o Porto”. Formou-se na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo) e hoje é professor de trompete jazz no Conservatório de Música do Porto.

Do Porto, passou a circular por universidades de vários pontos do mundo, como professor e também como palestrante, e a par de iniciativas e concertos ligados ao jazz, como um tributo a Miles Davis no Hot ou a Orquestra Jazz Matosinhos, que chegou a integrar, teve pela frente outros desafios, como o que o leva, esta semana, a tocar com a Orquestra do Norte. Será esta quinta-feira em Amarante, no Cineteatro, às 21h30, agora num contexto mais clássico, sob a direcção do maestro Fernando Marinho. O repertório foi escolhido de entre temas clássicos da música popular brasileira, como Garota de Ipanema (Vinicius de Moraes e Tom Jobim), Carinhoso (Pixinguinha), Aquarela do Brasil (Ary Barroso) ou Com que roupa (Noel Rosa).

“Pensar num repertório para esta formação foi bastante difícil porque não é um programa muito usual”, diz Gileno. “Foi um trabalho árduo de pesquisa, para ver o que já estava escrito para essa formação, e encontrei três belíssimos arranjos: o primeiro é do pianista Gil Goldstein para a música Insensatez, do Jobim; o segundo é de Nelson Ayres, um dos maiores arranjadores e pianistas do Brasil, do Carinhoso do Pixinguinha, feito para a Jazz Sinfônica Brasil; e o terceiro é do guitarrista Alexandre Mihanovich, que apesar do nome é brasileiro, também para a Jazz Sinfônica. Então, entrei em contacto com os arranjadores e desenhei o projecto. Este concerto nasce na minha cabeça, eu visualizo-me a tocar com uma orquestra clássica, porque é algo que eu ainda não tinha feito. Toquei com variadíssimas orquestras na formação jazzística, mas uma orquestra clássica é um outro universo.”

Para completar o programa, Gileno alargou a pesquisa. “Fui ver se arranjadores no Brasil já tinham feito arranjos para músicas com esse mesmo peso, como Aquarela do Brasil [de Ary Barroso] ou Dindi, do Jobim, que são músicas que podiam estar no lugar do hino nacional brasileiro. A Aquarela do Brasil é uma ode a toda a estrutura do povo brasileiro. Falei com arranjadores como Gilson Santos, Bruno Santos ou Érica Masson, e pedi-lhes para fazerem adaptações dessas músicas para formação clássica. Consegui e montei o concerto.”

O tema de abertura do concerto será ainda mais antigo, diz Gileno. “É uma peça de Alexandre Levi, do século XIX, que tem uma forte influência dessa mistura do folclore brasileiro com uma formação clássica. Vamos tocar o quarto andamento da Suite Brésilienne [1890] somente com orquestra. Tive essa ideia de colocar a orquestra a tocar uma peça do folclore brasileiro.” Gileno Santana assina também um arranjo, para o Um a zero, de Pixinguinha, que integra o programa, e vai tocar com a orquestra uma composição sua, intitulada À escolha. O concerto, diz o trompetista, encerrará com a Aquarela do Brasil, um clássico a soar em clássica.

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