Os alunos trazem facas para protecção pessoal, dizem eles, e portanto (e por consequência) todos os dias de manhã e à chegada os alunos são revistados na minha escola no Reino Unido. Sem excepção.
Mais, equipados com um detector de metais fornecido pela polícia e ao melhor estilo de um aeroporto, já perdi a conta aos cigarros electrónicos e isqueiros apreendidos para grande desagrado dos alunos.
De igual modo, os arredores e arbustos vizinhos e contíguos à escola são visita regular de professores e pessoal assistente e o seu objectivo é só um: garantir a segurança dos alunos e a certeza da sua chegada a casa naquele dia, todos os dias, sãos e salvos.
Além de tudo isto, pelo menos uma vez por período, temos um pórtico detector de metais, fornecido e apoiado por vários elementos da polícia em conjunto com um elemento do corpo cinotécnico, vulgo um simpático sabujo a fazer as delícias de quem por ele passa.
Caso algum aluno traga uma faca para a escola, para além das consequências legais, a expulsão é imediata e abrem-se duas hipóteses. Ou se encontra um estabelecimento escolar alternativo, ou o município fica encarregado de providenciar um tutor e as aulas passam a decorrer em casa, se os pais estiverem presentes, ou numa biblioteca local.
Esta medida, rigorosa quanto baste, funciona como elemento dissuasor e passa uma mensagem de tolerância zero clara e apreendida por toda a comunidade escolar.
O último exemplo? No ano transacto, conheci um aluno que não teve outra opção senão estudar a partir de casa, mas que beneficiou muito do programa de mentoria para o qual foi rapidamente referenciado. Foi essencial no apoio emocional tanto para o aluno como para os pais ainda a recuperar do choque, oferecendo orientação escolar e profissional, resgatando o aluno das ruas e providenciando um estágio na construtora onde trabalha actualmente.
Encontramo-nos com os pais regularmente, alertando para a proveniência de tantas facas das cozinhas de casa. Também fazemos workshops de modo a sensibilizar os jovens para os riscos e consequências, legais e pessoais, do uso de facas, com o apoio de assistentes sociais especialistas em delinquência juvenil, sobreviventes de esfaqueamento ou então os pais, ainda hoje em luto, das vítimas.
E quando o pior acontece — porque o pior acontece —, a cada três meses todos os alunos fazem formação em primeiros socorros e suporte básico de vida onde se inclui fazer pressão sobre a ferida com o auxílio de uma t-shirt em caso de esfaqueamento, manobra essencial quando se quer salvar uma vida.
A relação com a polícia e a confiança na polícia são igualmente preponderantes. Por isso, duas vezes por semana é presença assídua na escola um polícia vestido à civil a interagir não só com alunos e pais, mas também a jogar à bola com os petizes — porque nada como o desporto como elemento de união da comunidade.
E se o princípio é óbvio, a verdade de trabalhar numa escola inclusiva e promotora de uma cultura onde se celebram o respeito mútuo, a diversidade, a empatia e o apoio significa a redução de modo exponencial da necessidade, vontade ou o mero pensamento de recorrer à violência quando o conflito ocorre ou como meio de ganhar o respeito dos pares.
Na mente das crianças a violência deixa de fazer sentido e deixa de ter um papel a desempenhar. Para quê se tenho quem me ajude?
No entanto, não nos enganemos: o problema é societal e está na rua, desde o desemprego dos pais à falta de habitação, sem esquecer as famílias sem-abrigo que são cada vez mais, passando pela falta de oportunidades de futuro, com o apelo fácil da venda e consumo de substâncias ilícitas, elas próprias geradoras de mais insegurança e violência num ciclo vicioso sem fim.
E por aqui se explica o porte e uso de facas da parte de crianças e adolescentes como um problema crescente e a responsabilidade não apenas da escola, mas colectiva, em cooperação estreita com os parceiros sociais, polícia, autarquias e representantes políticos, empresas e serviços públicos — todo um país.