Naomi Campbell afastada do trabalho de solidariedade por gestão danosa de fundação

Fundação da modelo gastou “cententas de milhares” de libras em hotéis de luxo, spas e cigarros. Apenas uma reduzida percentagem dos fundos chegava mesmo aos mais pobres.

Foto
Naomi Campbell tem 54 anos REUTERS/Hollie Adams
Ouça este artigo
00:00
03:54

A supermodelo Naomi Campbell vai ficar inibida de administrar instituições de solidariedade durante os próximos cinco anos, anunciou o regulador britânico nesta quinta-feira. A decisão da Charity Commission surge na sequência de uma investigação sobre a aplicação dos fundos angariados pela associação da modelo, a Fashion For Relief.

Dos milhões angariados em eventos com celebridades, em que Naomi Campbell era a anfitriã, apenas uma pequena porção chegava efectivamente aos mais pobres, para quem a associação trabalhava.

A investigação apurou que a Fashion For Relief gastou “centenas de milhares” em hotéis de luxo, tratamentos de spa, cigarros e segurança pessoal para Campbell. Mais: estão registados pagamentos também de “centenas de milhares” para uma dos administradores da associação, sem que tivessem sido aprovados, diz o The Guardian. Aliás, entre Abril de 2022 e Julho de 2022, apenas 8,5% das despesas da associação se destinaram a subvenções de caridade.

Entre as despesas citadas pela Sky News está um voo de Londres para Nice para transportar jóias para um evento de angariação de fundos que custou 14.800 euros. Nessa mesma viagem a Cannes, três noites num hotel de cinco estrelas para Campbell custaram 9400 euros.

No total, foram recuperadas cerca de 350 mil libras (cerca de 420 mil euros) pelos reguladores que devolveram esse valor às associações Save the Children e Mayor's Fund for London, que, em 2020, fizeram a denúncia à Charity Commission depois de um evento de angariação de fundos ter corrido mal.

Além de Naomi Campbell, que fica cinco anos afastada do trabalho de solidariedade, também Bianka Hellmich, a administradora que recebeu 290 mil libras (mais de 348 mil euros) em pagamento de despesas ao longo de dois anos, está banida das mesmas funções durante nove anos. Há ainda uma terceira pessoa envolvida: Veronica Chou, que está interditada durante quatro anos.

“Os administradores são legalmente obrigados a tomar decisões que vão ao encontro dos interesses da instituição e a cumprir os seus deveres e responsabilidades legais. O nosso inquérito concluiu que os administradores desta instituição de caridade não o fizeram, o que resultou na nossa acção de os desqualificar”, justificou Tim Hopkins, director adjunto para os inquéritos especializados da Charity Commission.

A Fashion for Relief estava inactiva desde 2020 quando surgiram os primeiros rumores de gestão danosa, mas foi oficialmente dissolvida em Março deste ano. A supermodelo sempre negou todas as acusações de que estaria a usar o dinheiro de forma inapropriada. Aliás, assegurava ao The Guardian, nunca recebeu qualquer salário pelo trabalho na associação que apoiava crianças em situação de pobreza.

A polémica com a Fashion for Relief não é a primeira em que Naomi Campbell se envolve. No ano passado, a britânica foi criticada por ter lançado uma parceria com a marca de fast fashion PrettyLittleThing. Os fãs revoltaram-se por a ver ligada a uma marca pouco sustentável e a modelo respondeu que convidou jovens designers para desenharem essa colecção, dando-lhes assim palco. “Sei que é fast fashion e que as pessoas têm críticas. Mas, enquanto agente da mudança, achei que era uma maneira fantástica de fazer a diferença na indústria ao reconhecer criadores emergentes”, justificou.

Antes disso, em 2022, fez manchetes ao ser anfitriã de um desfile de moda no Qatar. A atitude foi vista como contraditória, uma vez mais. Campbell sempre declarou o seu apoio à comunidade LGBTQI ao longo das últimas décadas, mas associou-se a um país onde a homossexualidade constitui um crime.

Aos 54 anos, Naomi Campbell continua a ser requisitada para pisar as maiores passerelles do mundo, apesar de já se ter “reformado oficialmente”. Nos anos 1990, fazia parte do clã de supermodelos ao lado de nomes como Christy Turlington, Linda Evangelista ou Cindy Crawford. No campo da vida pessoal, a modelo foi mãe de um menino no ano passado, que se juntou à menina de três anos, que nasceu em 2021.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários