O rio Mississípi volta a secar na pior altura para os agricultores

Um das principais rotas de transporte de mercadorias dos EUA está em seca severa. Os custos do transporte estão 55% acima da média dos últimos cinco anos e os agricultores não conseguem suportá-los.

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Uma embarcação com milho leva, actualmente, menos 27% da carga para conseguir atravessar o rio Houston Cofield / Bloomberg
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O Rio Mississípi, nos Estados Unidos da América, está a sofrer com a falta de água pelo terceiro Outono consecutivo, uma altura crucial do ano em que os agricultores norte-americanos dependem da rota para exportar as suas colheitas para os países mundiais.

Os meses de chuva limitada - com poucas hipóteses de mais chuva durante o resto da época - deixaram o rio tão pouco profundo que as pequenas embarcações estão a começar a encalhar, mesmo depois dos carregadores (que levam a carga para os barcos) terem optado por levar cargas mais leves para evitar que os barcos batam no fundo do rio.

Embora a situação não seja tão caótica como os anos anteriores, a falta de água que se verifica ano após ano está a dar dores de cabeça às pessoas que abastecem os barcos e aos agricultores. A seca que tem afectado o Mississípi nos últimos três anos está a aumentar os custos de transporte e a prejudicar a capacidade dos agricultores de competirem nos mercados estrangeiros. Nas melhores épocas, cerca de dois terços das exportações de produtos agrícolas dos EUA são transportados pelo Mississípi até ao Golfo do México.

"Os longos períodos de águas baixas e o aumento dos custos do transporte para fazer chegar os alqueires aos portos dos EUA acabam por impedir os negócios", afirmou Susan Stroud, analista da No Bull Inc., à Bloomberg.

Actualmente, os custos de transporte estão 55% acima da média dos últimos cinco anos. Embora a demanda por soja e milho americanos seja grande, esses custos elevados podem criar uma desvantagem competitiva em relação aos agricultores do Brasil quando estes começarem as colheitas no início de 2025.

Como os compradores mundiais em países como a China estão a apressar-se a importar as colheitas dos EUA antes das eleições presidenciais de 5 de Novembro, os transportadores podem repercutir os custos adicionais. O preço do milho americano no Golfo do México é de cerca de 197 dólares (181 euros) por tonelada métrica - um pouco abaixo dos preços no porto brasileiro de Santos, em São Paulo.

"Estamos à mercê do rio"

A procura mundial tem vindo a afastar-se dos EUA há anos, em parte devido ao aumento da transformação interna que mantém mais fornecimento de mercadorias dentro do país. Os problemas fluviais só estão a dificultar a recuperação.

"Estamos à mercê do rio", comenta Bryce Baker, director-geral do terminal Jersey County Grain em Hardin, no estado do Ilinóis, à Bloomberg. Baker começou a reservar as pequenas embarcações que necessitava para este mês em Agosto, para se certificar que não lhe faltava nenhuma.

As restrições de calado, que limitam a profundidade a que um navio pode estar colocado na água, levam a que, actualmente, uma embarcação com milho possa ter menos 27% do que seria uma carga completa normal. "Definitivamente, afecta o volume", complementa Baker. "Está a fazer com que instalações como a minha tenham um frete de barcos mais longo", conclui.

O problema resulta de um período de seca nas regiões que alimentam o Mississípi, bem como os rios Missouri e Ohio. De acordo com o US Drought Monitor, em toda a região Centro-Oeste dos EUA, cerca de 83% da terra está anormalmente seca e quase 53% está seca.

A seca é tão severa que nem uma boa época de chuva iria ser suficiente para resolver os problemas de falta de água no rio, garante Drew Smith, vice-director da divisão de bacias hidrográficas do Corpo de Engenheiros do Exército norte-americano à Bloomberg.

As autoridades não estão preparadas para culpabilizar as alterações climáticas. A recente tendência de seca foi precedida por um longo período húmido que só terminou em 2020. "É muito cíclico, nós vemos ambos os eventos", conclui Smith.

"Resta saber o que pode estar a provocar a seca nos últimos anos", questiona Trent Ford, climatologista do Estado de Ilinóis associado à Universidade do Ilinóis. "Três anos não fazem uma tendência", acrescenta.