Foram demolidas as ruínas do sanatório Albergaria Grandella, em Loures

A construção nunca foi concluída. Após décadas a trocar de proprietário, as ruínas foram demolidas e ainda não se sabe qual será o futuro daquele espaço.

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O edifício começou a ser construído em 1919, mas nunca foi concluído nem utilizado. Francisco Antunes
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Pretendia-se que fosse um sanatório para pessoas doentes com tuberculose. Francisco Antunes
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A misteriosa construção de Cabeço de Montachique, em Loures, que muitos consideravam um castelo, foi demolida. Quando foi construído, pretendia-se, na verdade, que fosse um sanatório – o Sanatório Albergaria Grandella – para receber pacientes com tuberculose, que acabaram por nunca chegar. A obra também nunca chegou a estar concluída, apesar de ter passado pelas mãos de vários proprietários ao longo de mais de um século.

O PÚBLICO contactou a Câmara de Loures, que até agora ainda não esclareceu quais foram os motivos da demolição, nem qual será o futuro do espaço. Por se tratar de uma propriedade privada, a autarquia diz estar também à espera de respostas.

Em Março de 2023, as ruínas já tinham sido incluídas numa discussão pública conduzida pela Câmara Municipal de Loures que se debruçava sobre a industrialização da zona. Em relatório, resume-se que a maioria das participações incidia “sobre matéria de valorização patrimonial, histórica e cultural questionando assim a ausência do valor da estrutura”. No entanto, as entidades consultadas, que incluíam a Direcção-Geral do Património Cultural, o departamento de Cultura, Desporto e Juventude da Câmara de Loures e a Junta de Freguesia de Lousa, defenderam a “ausência de valor patrimonial nas referidas ruínas”, sustentando a “importância da estratégia de desenvolvimento territorial para toda a área industrial de Tocadelos”.

Anos antes, também já se tinha criado uma petição pela conservação das ruínas, cuja demolição fora, de igual modo, alvo de discussão pública. A petição, evocando o valor histórico do edifício, construído com o objectivo de apoiar pessoas afectadas pela tuberculose, pedia à câmara que adquirisse o terreno para o transformar num centro interpretativo, que classificasse as ruínas como sendo de interesse municipal ou que retirasse a classificação industrial da região.

O edifício não era considerado património de interesse local por não estar concluído, diz ao PÚBLICO fonte desta autarquia. Em 1918, quando o terreno foi concedido por Francisco de Almeida Grandella para a construção de uma unidade de tratamento de pessoas doentes com tuberculose, o Cabeço de Montachique era visto como a zona ideal: era isolada e elevada (com 200 metros de altitude), tendo, por isso, “bons ares”. Além de todas as unidades do interior do hospital, este ainda teria jardins, ocupando 3500 metros quadrados.

Chegou a ser construída uma parte, projectada pelo arquitecto Rosendo Carvalheira. Essa parte, que ficou no terreno até aos últimos dias, representava uma estrela de sete pontas, inspirada num dos graus da Maçonaria, o que gerou especulações sobre a origem e o objectivo deste desenho. Contudo, ainda antes do início da construção, em 1919, o arquitecto morreu, e Francisco Grandella, o principal accionista, veio à falência na sequência da crise económica que Portugal enfrentava no pós-Primeira Guerra Mundial. Mesmo assim, existem rumores de que foi enterrado naquele espaço um cofre com o dinheiro doado e angariado através de rifas para apoiar as obras.

As ruínas passaram por muitas mãos até chegarem a Inácio Roseiro, há vinte anos. O proprietário pretendia recuperar a construção e criar um lar de idosos, algo que não conseguiu devido a conflitos com a Câmara de Loures. Também quis criar um hotel, sem pôr em causa o que já fora edificado, mas a ideia também não se concretizou. Por isso, em 2018, decidiu colocar o espaço à venda, novamente sem sucesso.

Texto editado por André Borges Vieira

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