Trump está de volta. A Europa vai acordar?

O novo mandato de Trump não é apenas um desafio para o projeto europeu; é um ultimato. Com Trump de volta, qualquer ilusão de estabilidade que dependa de Washington deve de ser revista urgentemente.

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Megafone P3: Trump está de volta. A Europa vai acordar? Brendan McDermid / REUTERS
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A reeleição de Donald Trump coloca a União Europeia diante de um ultimato. Durante várias décadas, confiámos na proteção e na aliança americana, mas esse modelo, baseado na segurança e nos interesses estratégicos dos EUA, já mostrou as suas fragilidades. A vitória de Trump expõe agora a ilusão de uma aliança sólida e a fragilidade do projeto europeu caso não haja uma mudança radical. Hoje, a questão já não é se a UE se deve tornar autónoma, mas por que razão continua a hesitar em trilhar esse caminho.

Trump vê alianças como transações. O seu regresso à Casa Branca, com uma visão isolacionista ainda mais agressiva, revela que os EUA já não se sentem responsáveis pela estabilidade europeia a menos que isso traga benefícios concretos. Para ele, acordos multilaterais são obstáculos; a NATO é um custo elevado e sem garantias. Por não ter procurado uma posição não-alinhada em décadas anteriores e se ter limitado a apoiar os interesses de policiamento global dos EUA, agora a UE vê-se obrigada a ter de se preparar para um futuro em que esta proteção condicional pode desaparecer, obrigando finalmente o continente a assumir o controlo da sua própria segurança.

A pressão para uma defesa europeia unificada e uma postura de não-alinhamento no cenário global deixou de ser uma ideia abstrata e tornou-se um imperativo. Mas esta unidade enfrenta um grande problema: o consenso interno. A França e a Alemanha defendem uma autonomia militar, mas muitos países do Leste europeu, habituados a depender da NATO e do apoio dos EUA contra a ameaça russa, não se sentem seguros num projeto que ainda é incipiente.

Não obstante, a defesa unificada não é a única questão pendente para a autonomia europeia. A dependência energética e tecnológica expõe o continente a um jogo geopolítico onde a desvantagem é óbvia. As nossas redes de comunicação e infraestruturas críticas são dominadas pela tecnologia americana, o que gera uma dependência delicada. Como podemos confiar numa infraestrutura digital controlada por interesses externos de um Estado onde não temos voz? Se Trump mantiver a sua política de pressões comerciais e tecnológicas, o controlo europeu sobre a própria segurança digital ficará comprometido.

A União Europeia enfrenta também um desafio crítico na área ambiental. Enquanto Trump ignora a crise climática e aposta no regresso aos combustíveis fósseis, a Europa procura um compromisso com metas de acção climática, ainda que seja insuficiente. Esta diferença não é apenas ideológica, mas estratégica. A transição para energias renováveis e a redução da dependência do petróleo proveniente de países onde os EUA procuram impor a sua influência ou por via da força, ou através de acordos económicos com Estado autoritários, deve ser essencial para a UE. Se não acelerarmos este processo, ficaremos prisioneiros de políticas energéticas que não controlamos e reféns de importações de regiões em crise ou de aliados instáveis.

A coesão interna do bloco europeu também não deve ser ignorada. As divisões, especialmente entre os países do Norte e do Sul e os mais céticos no Leste, enfraquecem a capacidade europeia de responder de forma eficaz às pressões externas. Trump aproveitou-se dessas divisões no passado e é provável que o faça novamente. A vitória de Trump também traz um confronto de valores, levando a que a UE passe a ter a responsabilidade acrescida de assumir um papel de liderança global. Este é o momento para que o bloco não só reafirme os seus compromissos com a democracia, o direito internacional e a sustentabilidade. É impossível continuar a afirmar que defende o direito internacional e a dignidade humana, fechando os olhos ao que acontece no Sul global, nomeadamente na Palestina.

O novo mandato de Trump não é apenas um desafio para o projeto europeu; é um ultimato. A UE está perante um futuro em que a inação pode ser fatal para a sua autonomia. As divisões internas, a dependência energética, o atraso na segurança e a fragilidade digital são vulnerabilidades que precisam de ser enfrentadas imediatamente. Se o bloco quer ter um papel relevante e seguro no cenário global, tem de agir agora, deixando de ser uma extensão da influência americana para se tornar, de facto, uma força independente e decisiva.

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