Uma viagem para dentro de nós

Muito mais do que uma prática física, o yoga é uma maneira de encarar o mundo com mais alegria e tranquilidade.

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Há alguns anos, fiz uma viagem para a Índia. Para além das inúmeras cores, sabores, cheiros e diferenças culturais, uma imagem me marcou: em uma rotatória congestionada de Varanasi — que dizem ser a cidade mais antiga em funcionamento do mundo —, no meio da bagunça institucionalizada de carros, ônibus, motos e tuktuks, vacas, cachorros e gente, todos fazendo muito barulho, havia um senhor sentado em uma pedra, tomando seu chá tranquilamente. No mundo a sua volta reinava o caos, mas ele era a encarnação da paz.

Aquela cena para mim representa o yoga (no sânscrito é “o yoga”). Pratico há mais de 15 anos e recomendo para absolutamente todo mundo. Muita gente fala: “Ah, mas eu já faço pilates”. Juro, não é a mesma coisa. Nada contra o pilates, mas o yoga não é só uma técnica corporal. “Ah, mas não sou flexível.” Isso não tem importância nenhuma para a prática. “Ah, mas sou muito ansiosa.” Por isso mesmo você deveria tentar. E persistir. Porque, no começo, é difícil. E talvez não fique muito mais fácil com o tempo. Você reconhece as poses e os movimentos, mas algum músculo sempre vai doer. Com o tempo, a gente entende que tem que ceder e relaxar, desapegar da dor. E essa é uma das melhores sensações do mundo.

O yoga não tem nada a ver com religião ou esoterismo. Além de muitas outras coisas, é uma preparação do corpo para a meditação e uma maneira de meditação ativa. E, com bons instrutores, as aulas apresentam todo um manancial de ensinamentos que, aos poucos, nos mostram como desapegar e encontrar a paz.

Com toda a certeza, a prática mudou a minha vida. Não tem a ver com questões físicas, apesar de achar que hoje sou mais flexível e tenho mais equilíbrio, no corpo e na mente, do que quando comecei. Não está relacionado a questões místicas, mesmo tendo aprendido bastante sobre as divindades indianas e suas lendas. É algo mais profundo, uma mudança na maneira de ver a vida e de se ver nela.

Primeiro, descobri a importância de respirar. Você pode achar que é algo bobo, mas em qualquer situação difícil, numa discussão, diante de um problema que parece intransponível ou ao se confrontar com um dilema, respirar profundamente, com calma e consciência, ajuda a botar a cabeça no lugar, a ver soluções e a pensar melhor.

Durante a prática, ao persistir em uma postura especialmente difícil, que causa dor, fui me dando conta de que é possível encarar qualquer dificuldade com afinco, sem desistir, com a consciência de que, uma hora, o sofrimento vai acabar. Sempre acaba. E quando acabar, ficaremos muito mais felizes pelo êxito de termos conseguido aturá-lo até o final. Por outro lado, aprendi também que devemos respeitar os limites do nosso corpo e, extrapolando, estar atentos aos nossos limites na vida. Existem coisas que não conseguimos fazer, e como diz minha amada mestra Luciana Perez: “Está tudo bem”.

Essa ideia é muito útil para nos ajudar a controlar a ansiedade. Nós fazemos o melhor possível, em todas as situações. Nem sempre é sensacional, é o mais indicado ou o que outras pessoas fariam, mas é o que conseguimos naquele momento. Às vezes estamos com preguiça, às vezes não temos vontade e às vezes damos o melhor de nós e, mesmo assim, não atingimos o objetivo.

O importante é fazer o que precisamos sem esperar um resultado específico. Porque, na verdade, só temos controle sobre nossas ações, não sobre seus resultados. Você pode ter uma atuação digna de Óscar em uma situação, e outra pessoa levar o prêmio por uma série de razões, da habilidade maior à injustiça. Quando aprendemos que não temos controle sobre os resultados de nossas ações, praticamos o desapego e a vida fica mais leve. Mas, atenção, isso não quer dizer que podemos parar e não fazer mais nada, porque vários resultados do que fazemos com certeza ainda serão satisfatórios.

Se todos praticassem yoga de verdade, o mundo seria um lugar melhor. Um dos meus mantras preferidos é “Lokah samastah sukhino bhavantu”, que quer dizer mais ou menos “Que todos os seres sejam felizes e livres, e que meus atos, palavras e pensamentos contribuam para que atinjam a felicidade e a liberdade”.

Não consigo pensar em frase melhor para o momento conturbado que vivemos. Já imaginaram se todas as pessoas pensassem assim? Teríamos muito menos problemas. Eu vivo, deixo viver e contribuo com a escolha de vida dos outros tão tranquilamente como o senhor que tomava seu chá no meio da rotatória de Varanasi.

Eu poderia gastar dias falando do yoga, mas o espaço é finito. Se você se interessou, esses artigos podem explicar melhor a prática:

E para contribuir com um mundo onde todos os seres podem ser felizes, segue uma receita de panquecas para um café da manhã reforçado, sem produtos que machucam os animais, mas com muita proteína e fibras, que fica maravilhosa, alta e fofinha, como as americanas.

Panquecas de tofu

> 200 gramas de tofu
> 200 gramas de farinha de aveia ou aveia em flocos
> 2 copos de leite vegetal ou água
> Sal, açúcar ou mel de tâmaras a gosto

Bata tudo no liquidificador até ficar bem lisinho. Unte uma frigideira que não gruda com um pouquinho de azeite. Coloque de duas a três colheres da massa formando uma rodela. Vire quando estiver dourada. Coma com frutas, mel de tâmaras ou recheios salgados.

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