Mais de metade dos influencers não verifica informações antes de as publicar

A UNESCO analisou 500 criadores de conteúdo e concluiu que 62% não confirma a veracidade da mensagem que publica. Grande parte confia na informação com base no número de gostos que a fonte tem.

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Os criadores de conteúdo (também conhecidos como influenciadores digitais) partilham regularmente conteúdos nas redes sociais, mas, de acordo com a UNESCO, mais de metade não verifica as informações que diz antes de as publicar.

O relatório Behind the Screens (Atrás dos Ecrãs, em tradução livre), que aborda as práticas, os desafios e a deontologia dos influencers, concluiu que cerca de 62% não confirma a veracidade dos factos apesar de serem uma das principais fontes de informação para os seguidores, principalmente os mais novos que lêem cada vez menos notícias. Na verdade, lê-se no relatório, só 37% (36,9%) admitiu verificar a informação em sites de notícias, marcas e outras fontes confiáveis antes de a publicar nas redes sociais.

Segundo as Nações Unidas, esta falta de verificação faz com que os influencers e as pessoas que os seguem sejam “mais vulneráveis a fake news e desinformação” — por isso, apela a uma “necessidade urgente de aprimorar as competências de alfabetização” dos criadores de conteúdo, lê-se no documento.

“Sem competências de pensamento crítico, estes criadores podem ser vítimas de manipulação por parte de diversas entidades, incluindo Governos e marcas, e potencialmente comprometer a autenticidade e a integridade do conteúdo que produzem. Estes riscos podem minar a confiança que o público tem neles”, reforça a UNESCO.

O relatório, que foi elaborado por um grupo de investigadores da Bowling Green State University, nos EUA, analisou a presença nas redes sociais de 500 influencers de 45 países e territórios entre Agosto e Setembro deste ano. A análise inclui as 50 respostas de participantes de países que falam português, "incluindo Portugal e o Brasil".

Posteriormente, e a fim de assegurar uma análise mais detalhada do trabalho que fazem nas redes sociais, os investigadores realizaram entrevistas a 20 criadores de conteúdo. A maioria vivia na Europa e Ásia, tinha menos de 35 anos e até 10 mil seguidores (nano-influencers) que vêem os conteúdos que publicam sobre moda, lifestyle, beleza e viagens no Instagram, Facebook e Tiktok.

Nas entrevistas, que foram feitas por videochamada, os investigadores perceberam que a maioria dos influenciadores não tem percepção da influência que exerce sobre a audiência através das informações que partilha. A par disto, diz o estudo, não têm o hábito de utilizar informações de fontes oficiais, como documentos ou sites governamentais, desde logo porque não as consideram confiáveis. De acordo com a investigação, só 12,6% dos inquiridos disse utilizar fontes oficiais.

Grande parte da amostra (41,6%) opta por medir a veracidade de uma mensagem com base na “popularidade” da fonte — por exemplo, através do número de gostos ou alcance que essa mensagem teve antes a promoverem junto dos seus seguidores. Mais de 20% dos inquiridos disse confiar numa informação quando esta é partilhada por um amigo ou influencer que conhecem e que acreditam ser credível.

A reputação que a pessoa que partilhou a informação tem sobre o tema surge em terceiro lugar e tem importância para 19% dos influencers. No entanto, apenas 17% dos criadores de conteúdos afirmaram procurar documentação e provas que comprovem a veracidade da informação que vão publicar.

Curso de fact-check para influencers

Segundo o Guardian, a UNESCO acredita que aos programas de formação de literacia mediática podem ajudar os influenciadores a perceberem a importância da verificação dos factos, e, por isso, está a preparar um curso gratuito de verificação de factos em parceria com o Knight Center for Journalism in the Americas, um instituto de investigação em Austin, nos EUA.

No relatório, 73% dos influencers mostrou-se interessado neste programa de combate à desinformação.

De acordo com o site do Knight Center for Journalism in the Americas, o curso foi criado por especialistas em alfabetização mediática e conta já com nove mil criadores de conteúdo inscritos de 172 países que vão aprender a verificar a qualidade das informações, bem como denunciar desinformação e discurso de ódio.

O programa é online, sendo que as inscrições estão abertas até 15 de Dezembro e podem ser feitas através deste link.

Em declarações ao Guardian, Adeline Hulin, especialista em alfabetização mediática da UNESCO, explicou que os influenciadores que participaram no relatório não consideram que a criação e partilha de conteúdos seja jornalismo. No entanto, os seguidores estão cada vez mais a vê-los dessa forma.

As Nações Unidas acreditam, por isso, ser “essencial uma cooperação entre jornalistas e criadores de conteúdo” para lidar com a desinformação. “Ao promover a colaboração, podemos melhorar a qualidade da informação partilhada online e enfrentar colectivamente os desafios, ao mesmo tempo que construímos a confiança do público no espaço digital”, destaca o documento.

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