Suspeitos do ataque a motorista da Carris Metropolitana ficam em prisão preventiva mas negam crime

Arguidos estão indiciados por tentativa de homicídio qualificado, incêndio e dano. Testemunhas disseram às autoridades recear represálias da sua parte.

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Após a morte de Odair Moniz, vários tumultos na região de Lisboa resultaram em autocarros da Carris Metropolitana incendiados Nuno Ferreira Santos
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Dois dos três jovens detidos pela Polícia Judiciária (PJ) por terem incendiado um autocarro da Carris Metropolitana, deixando o seu condutor entre a vida e a morte, vão ficar em prisão preventiva. Foram constituídos arguidos por suspeitas de tentativa de homicídio qualificado, incêndio e dano, bem como de omissão de auxílio, mas negam terem praticado estes crimes.

"Existem fortes indícios de que os arguidos, juntamente com outros indivíduos, terão molhado um autocarro e o respectivo motorista com líquido inflamável, ateando-lhes fogo em seguida com o propósito de não só destruir o referido veículo mas, igualmente, de tirar a vida ao motorista. Este acabou por conseguir sair do autocarro em chamas pelos seus próprios meios mas sofreu graves lesões físicas motivadas pelo fogo que determinaram o seu internamento em estabelecimento hospitalar, com sequelas ainda não concretamente determinadas", descreve uma nota informativa divulgada esta quinta-feira à tarde pelo Ministério Público, acrescentando que o fogo se alastrou ainda a três automóveis que se encontravam estacionados ao lado do autocarro, que tal como o veículo de transporte de passageiros ficaram destruídos.

Tudo sucedeu a 24 de Outubro passado. A morte do cabo-verdiano Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, baleado três dias antes por um agente da PSP, na madrugada de 21 de Outubro, no Bairro da Cova da Moura, no concelho da Amadora, desencadeou vários actos de vandalismo em Lisboa e na periferia que duraram mais de uma semana. Aquele que teve consequências mais graves foi o que vitimou o motorista em Santo António dos Cavaleiros, quando, já de madrugada, estacionou o autocarro na paragem terminal da Cidade Nova e se preparava para voltar a casa. Os atacantes introduziram-se no veículo com o condutor ainda lá dentro.

Depois de os interrogar, uma juíza de instrução do Tribunal de Loures decidiu aplicar a medida de coacção mais gravosa a dois dos jovens detidos ontem pela directoria de Lisboa e Vale do Tejo PJ, no âmbito de uma operação policial, realizada em Santo António dos Cavaleiros, para cumprimento de oito mandados de busca. Um comunicado da comarca judicial de Lisboa Norte dá conta de que durante o seu interrogatório os arguidos "negaram a prática dos factos" perante a magistrada.

Na decisão de colocar dois deles em prisão preventiva pesaram não só questões de ordem e tranquilidade públicas, como também o risco de a sua manutenção em liberdade poder comprometer a investigação ao que sucedeu naquela madrugada. "Algumas pessoas residentes nas imediações do local onde os factos ocorreram recusaram prestar depoimento, justificando que tinham receio de represálias por parte dos arguidos", revela o mesmo comunicado, sublinhando a forma como "a gravidade das condutas imputadas aos arguidos" suscitou "medo, revolta e repúdio na comunidade". O processo encontra-se em segredo de justiça.

Colocado em coma induzido quando foi internado no hospital, o motorista só teve alta há cerca de uma semana. Em entrevista ao Diário de Notícias, conta que os atacantes lhe chegaram a apontar uma arma à cabeça. “Pedi para me deixarem sair. Não me deixaram.” Tentou fechar as portas do autocarro, mas um dos atacantes entrou pela porta do meio. “Aponta a arma à cabeça e diz: 'Tu não sais!'” Entretanto, "começam a mandar cocktails [engenhos explosivos artesanais] tanto de fora para o vidro do autocarro, como da porta da entrada para o meu lugar, para cima de mim. Sinto logo que fica um cheiro de combustível em cima de mim e foi só um indivíduo fazer faísca no isqueiro. Conforme dá faísca eu começo a pegar fogo”, recordou a vítima, que sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus nos braços, nas mãos, no tórax, no rosto e na cabeça, com repercussões nas vias respiratórias.

A Judiciária revela que ficou com "sequelas permanentes". Nas buscas que efectuaram esta quarta-feira os inspectores apreenderam telemóveis e peças de roupa que os suspeitos terão usado naquela noite.

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