São frangos, são do Além e vão estar na LX Factory

Projecto de Bernardo Agrela pretende ajudar a salvar as galinhas autóctones portuguesas. Seis chefs vão cozinhar e os clientes podem votar na receita preferida, que ficará no menu do Chickinho.

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As raças autóctones portuguesas correm o risto de desaparecer Diogo Ventura
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Galinha Preta Lusitânica, Amarela, Pedrês Portuguesa e Branca. Conhece? Já alguma vez as comeu? Para salvar as galinhas – neste caso, das quatro raças autóctones portuguesas – é preciso comê-las.

Pode parecer uma contradição, mas é esta a ideia por trás do projecto dos Frangos do Além que Bernardo Agrela, chef de cozinha com passagem pela Cave 23, A Praça (Casa do Capitão), O Povo e West Mambo, criou e que no próximo dia 13, a partir das 18h30, se apresenta num “evento gastronómico único” no Chickinho Lx Factory, em Lisboa.

Neste Chickinhos do Além, Bernardo vai juntar-se a vários chefs amigos – Pedro Abril (Musa), Zé Paulo Rocha (O Velho Eurico), Vítor Charneca (Copo Largo), Ana Raminhos (Raminhos Dessert) e Eduardo Sotelo (Chickinho). Vão cozinhar Frangos do Além e cada um criará uma receita exclusiva. Os clientes poderão votar na sua favorita, que passará a integrar o menu do Chickinho.

Haverá também um DJ convidado e o objectivo, segundo os organizadores, é que esta seja uma parceria para se manter no futuro porque, diz Bernardo, “é uma oportunidade única para unir a autenticidade das aves autóctones portuguesas à criatividade gastronómica do Chickinho”.

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Ovos de galinhas de raças autóctones Diogo Ventura

Foi quando abriu o West Mambo que Bernardo tomou consciência da dificuldade em encontrar frango de qualidade. “Para todos os produtos há uma entrada de gama e um topo de gama. Mas para o frango não.” Começou a pesquisar e descobriu que as quatro raças autóctones portuguesas encontram-se em risco de extinção por falta de procura e de consumo. Decidiu que iria trabalhar com elas e com os (poucos) produtores que ainda restam e, em 2013, criou o Frangos do Além.

Associou-se ao supermercado de produtos biológicos Miosótis, em Lisboa, no qual, além de vender os frangos e ovos, tem um espaço pop-up no qual serve shoarma e espetadas, no pão ou no prato, com acompanhamentos que são um aproveitamento de produtos da Miosótis, ajudando assim a evitar o desperdício.

Vai buscar um ovo e abre-o para nos mostrar a consistência da clara, mais espessa, e a cor amarelo viva da gema – “queremos uma cor torrada mas não alaranjada, a cor laranja de alguns ovos industriais vem de um pigmento que é colocado nas rações”.

Garante que o seu objectivo não é fazer uma guerra dos frangos de aviário, mas sim contribuir para um maior conhecimento do potencial das raças autóctones que, para os produtores, são muito menos rentáveis. Trata-se de animais, criados em regime de pastoreio, que vivem cerca de cinco meses (só são mortos os machos; as fêmeas são reprodutoras e podem viver alguns anos), ao contrário dos de aviário, que são mortos ao fim de 36 dias.

A carne e os ovos das galinhas autóctones são “menos gordos e mais proteicos”, afirma. Sendo uma carne mais escura e mais magra, tem de ser cozinhada de forma um pouco diferente (é ideal para arrozes, cabidelas), mas, para ajudar, Bernardo vende na Miosótis frangos pré-cozinhados que podem ser finalizados em casa. Para além da Miosótis e do Talho das Manas e Carne do Campo, vende também para restaurantes como o Tua Madre (em Évora), SEM, O Velho Eurico, Essencial, Canalha, Santa Joana e Feitoria (todos em Lisboa).

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Bernardo Agrela Gabriell Vieira

Depois de ter conseguido chamar a atenção para as raças autóctones, o objectivo de Bernardo é ganhar escala para ajudar os produtores a aumentar o número de galinhas que criam. Para já, trabalha com quatro criadores, e em breve com mais dois, todos biológicos (uma das dificuldades é que a maioria dos criadores que mantêm galinhas autóctones não são bio).

Quando começou a interessar-se pelo tema, ainda sonhou vir a criar as suas próprias galinhas, mas rapidamente percebeu que isso seria um trabalho a tempo inteiro e que a melhor forma de ajudar os criadores seria conseguir um meio de aproximar este produto dos clientes “que estão dispostos a pagar por ele” e que, na sua maioria, estão na cidade. Por isso, hoje os Frangos do Além ajudam na logística, com um transporte próprio que leva os animais até ao matadouro e depois até Lisboa. No dia 13, vão fazer uma viagem um pouco diferente, até à Lx Factory, e serão Chickinhos do Além.

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