Criadores de música e audiovisual podem perder 22 mil milhões de euros até 2028 para a IA
Previsão a cinco anos da Confederação Internacional de Sociedades de Autor e Compositores mostra crescimento exponencial no investimento em novos modelos de inteligência artificial generativa.
Dentro de cinco anos, o impacto da Inteligência Artificial (IA) poderá representar a perda de 12 mil milhões de euros das receitas no mercado audiovisual e de dez mil milhões de euros das receitas no mercado da música, conclui um estudo da Confederação Internacional de Sociedades de Autor e Compositores (CISAC) que reúne mais de cinco milhões de criativos de todo o mundo.
Os resultados do Study on the Economic Impact of Generative AI in the Music and Audiovisual Industries foram revelados na segunda-feira e apresentados esta quarta-feira em Paris. Mostram, por um lado, que o investimento em IA generativa “disparou” no ano de 2023, e sublinham, por outro, as preocupações quanto a direitos de autor quando a maior parte dos modelos de IA generativa “usam obras sem autorização protegidas por direitos de autor” na sua construção e que as criações resultantes destes programas e modelos muitas vezes são “difíceis de distinguir de criações humanas” e que “potencialmente podem substituir obras tradicionais no mercado de distribuição e exibição”.
No ano passado, o investimento nestes modelos foi nove vezes superior ao verificado em 2022, atingindo os 25,2 mil milhões de euros. O estudo foi feito com base em entrevistas com profissionais das indústrias de várias áreas e também com análise quantitativa de dados.
No audiovisual, o risco de perda de receitas para os criadores é então de 12 mil milhões de euros, o que representa a redução da quota de mercado dos autores (humanos) na ordem dos 21% só em 2028, ano em que poderão perder 4,5 mil milhões de euros. Em causa está sobretudo uma produção com base em IA generativa para conteúdos para as redes sociais e, em menor escala, para obras para televisão e streaming de baixo orçamento. Neste último caso, os exemplos dados são os desenhos animados ou publicidade.
Os profissionais que mais poderão sentir o impacto desta actividade crescente são os tradutores (56%) que fazem dobragens e legendagem, seguidos dos argumentistas (20%) e realizadores (15%). Os produtores serão os responsáveis por utilizar a IA generativa nas suas operações para baixar os custos e aumentar a eficiência, indica a CISAC.
No que toca à música, o mercado de som gerado por IA valerá 16 mil milhões de euros em 2028, prevê o estudo, e a música IA irá constituir 20% das receitas das plataformas de streaming musicais; o risco das perdas para os criadores (humanos) de música serão na ordem dos 24% em 2028, o que representa uma perda de dez mil milhões de euros ao longo dos próximos cinco anos, dos quais o pico será atingido em 2028 com quatro mil milhões de euros de quebra. Em contrapartida directa, os serviços de IA generativa deverão ter quatro mil milhões de euros de receitas brutas só no ano de 2028.
“Dentro da perda potencial estimada para os criadores de música, certos sectores serão particularmente afectados. O impacto potencial será forte nas colecções digitais (até 30% de canibalização no que está nas plataformas de streaming), seguidos pelos que trabalham para a indústria televisiva e rádio e na chamada música de fundo (cerca de 22% de canibalização)” usada em espaços públicos ou em produções audiovisuais, lê-se no documento.
As conclusões da CISAC mostram que na ausência de regulação legal que proteja os autores, estes “não vão beneficiar da revolução da IA”, seja por não receberem os direitos do seu trabalho que é usado para a aprendizagem dos modelos generativos, seja pela “canibalização ou substituição das suas fontes de receita tradicionais” quando os decisores optarem pela via da IA.