Do CD ao Astro Bot, já são 30 anos de PlayStation

Há 30 anos nasceu a PlayStation e o mundo dos videojogos nunca mais foi o mesmo. Ainda há margem para mudar?

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A primeira PlayStation nasceu há 30 anos KIM KYUNG-HOON / REUTERS
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A 3 de Dezembro de 1994, no Japão, reescreveram-se as regras do mundo das consolas e videojogos: nasceu a PlayStation (PS), da Sony. No ano seguinte, conquistou o mercado europeu e norte-americano. Hoje, com 30 anos de história, esta consola é de uma relevância incontestável. Como salienta Ricardo Correia, editor-chefe do site Rubber Chicken, principalmente nas gerações mais velhas, assim como se diz gillette para uma lâmina de barbear, diz-se playstation para falar de uma consola. A marca, de repente, é tão preponderante que se tornou o substantivo”.

Ainda que o seu nome seja de uma popularidade global, a sua origem, por outro lado, é desconhecida para muitos. No mundo dos videojogos, falar de Sony e Nintendo é como, no âmbito dos telemóveis, falar de Apple e Samsung — uma autêntica guerra de titãs. Mas não foi sempre assim.

No final dos anos 1980, as duas empresas uniram forças para que fosse incorporado um leitor de CD na consola Super Nintendo. A Nintendo queria atacar esse nicho de mercado e viu na Sony o parceiro ideal e especializado para o efeito.

Subitamente, ocorreu o que Ricardo Correia descreve como um dos maiores volte-faces da história da tecnologia. A Nintendo anunciou a Phillips (maior rival da Sony) como parceira para esta nova missão. O sentimento de traição foi, então, força motriz para que a Sony continuasse o seu caminho sozinha e fizesse nascer a primeira PlayStation.

Desde então, esta consola trouxe experiências transformadoras, com títulos como Metal Gear Solid e Gran Turismo. Em Portugal, particularmente, a empresa encontrou terreno fértil. Já beneficiava de uma grande reputação no meio da tecnologia, basta relembrarmos a existência de uma Praça Sony na Expo 98. Ademais, a distribuição da Nintendo era feita pela Concentra que, sendo virada para produtos infantis, acabou por manchar o posicionamento de mercado do hardware.

A PlayStation 2, lançada em 2000, tornou-se facilmente a consola mais vendida de sempre, principalmente pela sua capacidade de reprodução de DVD, o que, à data, era uma das soluções mais baratas no mercado. Seguiu-se a PlayStation 3, em 2006, que trouxe o Blu-Ray e uma grande melhoria a nível gráfico.

Já a PS4, em 2013, destacou-se pela sua abordagem mais voltada para o jogador e para uma experiência e carácter imersivo. Foram publicados grandes nomes, como God of War e The Last of Us. Em 2020, a PS5 elevou a fasquia tecnológica com um disco SSD ultra-rápido e o revolucionário comando DualSense.

Não pairam dúvidas sobre o avanço tecnológico trazido pelas PlayStation, mas, ainda que se reconheçam os 30 anos de vanguardismo, impõe-se uma questão: e agora? Todos os (muitos) euros gastos numa nova consola foram, para já, relativamente justificados. Terá a Sony deixado margem para a sua própria progressão?

Ricardo Correia, com confiança, reconhece que o salto entre gerações é cada vez menos notório, menos abismal. Acrescenta, também, que o consumidor é cada vez mais informado e, consequentemente, cada vez mais exigente. A forma como consumimos está a mudar e o papel da consola no mundo é constantemente questionado.

Os formatos de jogo em streaming tornam-se progressivamente mais populares e, com eles, a ideia de que a indústria deveria começar a vender um serviço e não um hardware. Ainda assim, Ricardo Correia não consegue prever um futuro sem consolas. “Haverá sempre uma franja de consumidores que quer uma experiência plug and play: comprar uma consola, ligar à televisão e jogar”, concluiu.

É possível que tenha razão. Ou, pelo menos, é isso que sugere o sucesso de Astro Bot. O jogo Astro’s Playroom, lançado com a PS5, começou como uma tech-demo para explorar as capacidades do comando DualSense. Contudo, a sua qualidade e criatividade surpreenderam mais que o expectável, o que levou ao desenvolvimento de novos títulos.

“O Astrobot é quase uma mascote, como o Super Mario da Nintendo. É um jogo de plataformas normal que, de forma criativa, explora as funcionalidades da consola, enquanto celebra a história da PlayStation”, explicou Ricardo Correia sobre o título repleto de referências sobre as três décadas da PS.

Esta aposta por uma mascote de plataformas que sirva para explorar as capacidades tecnológicas, em detrimento de conteúdos com um pendor adulto e cinematográfico, tendencialmente mais associados à Sony, acabou por resultar. A nova versão do jogo de sucesso, lançada a 6 de Setembro, vendeu, desde então, 1,5 milhões de cópias e tem capacidade para encabeçar várias cartas para o Pai Natal.

De modo mais amplo, o sucesso do Astro Bot pode até ser um prenúncio optimista dos próximos 30 anos da PlayStation, mesmo que isso signifique levar emprestada uma página do manual da Nintendo.

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