Indígena brasileira Sonia Guajajara vence prémio Champions of Earth da ONU

Ministra brasileira é um dos seis vencedores do galardão do Programa Ambiental das Nações Unidas, o prémio ambiental mais importante da ONU.

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A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, foi contemplada com o prémio Champions of Earh Camila Morales/UNEP
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A ministra brasileira Sonia Guajajara, à frente do Ministério dos Povos Indígenas desde o início de 2023, é uma das vencedoras do prémio Champions of Earth 2024, atribuído pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, sigla em inglês). A indígena, com um longo historial de activismo pelos direitos indígenas, foi laureada na categoria de liderança política. Há mais cinco vencedores do prémio Champions of Earth 2024, anunciou nesta terça-feira a UNEP.

A indígena Sonia Guajajara é a primeira pessoa à frente do Ministério dos Povos Indígenas, criado pela primeira vez na presidência de Lula da Silva, iniciada em 2023. Sob a liderança de Sonia Guajajara, “dez territórios foram reconhecidos como terra indígena para afastar a desflorestação, a actividade madeireira ilegal e os traficantes de droga”, lê-se no comunicado da UNEP sobre o prémio, que sublinha a importância das acções dos premiados para, com estratégias sustentáveis, enfrentar a degradação dos solos, a seca e a desertificação. Em geral, as terras protegidas por povos indígenas são mais conservadas do ponto de vista da biodiversidade, do que as que não são protegidas.

“Quase 40% das terras do planeta estão já degradadas, a desertificação está em ascensão e as secas devastadoras estão a tornar-se mais regulares”, explica Inger Andersen, directora-executiva da UNEP, citada no mesmo comunicado. “A boa notícia é que as soluções já existem hoje e, em todo o mundo, há indivíduos extraordinários e organizações que estão a demonstrar que é possível defender e curar o nosso planeta.”

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O ecologista indiano Madhav Gadgil Florian Fussstetter/UNEP

Uma das personalidades que é um dos exemplos referidos é Madhav Gadgil, um ecologista indiano, galardoado na categoria de prémio de carreira, que “passou décadas a proteger o planeta e as pessoas através da investigação e o envolvimento da comunidade”, lê-se no comunicado. O investigador, nascido em 1942, já recebeu vários prémios pelo seu trabalho que, entre vários sucessos, permitiu identificar a importância do bioma das montanhas Nilgiri, no estado Tamil Nadu, no Sul da Índia, que se tornou a primeira reserva da biosfera do país.

Amy Bowers Cordalis, indígena yurok, nos Estados Unidos, e Gabriel Paun, um ambientalista da Roménia, recebem, cada um, um prémio na categoria de inspiração e acção. A primeira tem trabalhado para o restauro do rio Klamath, no território dos Yurok, no Norte da Califórnia, ajudando a restabelecer as práticas daquele povo. Já Paun é fundador da Agent Green, uma organização não-governamental que, desde 2009, tem ajudado a travar a actividade madeireira ilegal na cordilheira dos Cárpatos, território do lince e do lobo.

Na categoria de ciência e inovação, o galardão foi para a China. O investigador Lu Qi tem trabalhado ao longo de três décadas na tentativa de travar e reverter os desertos no território chinês. Lu Qi é também fundador e presidente do Instituto da Grande Muralha Verde, uma iniciativa para reflorestar um corredor de 8000 quilómetros na região do Sahel, a zona de savana a sul do deserto do Sara, em África.

Amy Bowers Cordalis, indígena dos Estados Unidos que lutou pelo restauro do rio Klamath Duncan Moore/UNEP
O ambientalista romeno Gabriel Paun Andrei Pungovschi/UNEP
O investigador chinês Lu Qi, perito na refllorestação no contexto dos desertos JUSTIN JIN/UNEP
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Amy Bowers Cordalis, indígena dos Estados Unidos que lutou pelo restauro do rio Klamath Duncan Moore/UNEP

Finalmente, o prémio na categoria de visão empresarial foi para a plataforma Sekem, que desde 1977 tem um programa de agricultura biodinâmica no Egipto que ajudou a transformar mais de 12.000 hectares de deserto em terra arável, apoiando pelo meio 6000 agriculturas. A Sekem foi um dos vencedores do Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2024, em Julho último.

O Champions of Earth é o mais importante prémio ambiental da Organização das Nações Unidas. O seu anúncio na última semana da 16.ª Conferência da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação​, que termina na próxima sexta-feira em Riad, na Arábia Saudita, não será despropositado.

“Os esforços dos [laureados do prémio] Champions of Earth 2024 sobressaem enquanto exemplo de que a luta para proteger a nossa terra, os nossos rios e os nossos oceanos, é uma luta que podemos ganhar”, refere Inger Andersen. “Com as políticas certas, os avanços científicos, as reformas do sistema, o activismo, assim como com a liderança vital e a sabedoria dos povos indígenas, podemos restaurar os nossos ecossistemas.”

No passado, já foram galardoados com este prémio personalidades como David Attenborough, políticos como a primeira-ministra de Barbardos, Mia Mottley, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, e organizações como a Fridays For Future.

O prémio não tem um valor pecuniário associado.