Novas autoridades sírias vão acusar responsáveis do regime de Assad por tortura

Descobertos quase 40 corpos com sinais de tortura numa morgue num hospital em Damasco. Busca na prisão de Sednaya terminou.

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Operação de busca dos Capacetes Brancos na prisão de Sednaya Amr Abdallah Dalsh / REUTERS
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Pessoas esperam por notícias sobre presença de mais prisioneiros em Sednaya Amr Abdallah Dalsh / REUTERS
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O grupo de resgate Capacetes Brancos anunciou, nesta terça-feira, que tinha acabado as suas buscas na prisão de Sednaya sem encontrar mais alas da prisão onde pudessem estar pessoas ainda encarceradas após a libertação dos detidos na prisão, “o matadouro humano” do regime de Bashar al-Assad.

Mas combatentes do grupo que derrubou o regime encontraram, por outro lado, quase 40 corpos com sinais de tortura na morgue de um hospital em Damasco.

Esta terça-feira, o líder do principal grupo rebelde, Abu Mohammad al-Jolani, que agora está a deixar de usar esse nome de guerra optando pelo nome real, Ahmed al-Sharaa, declarou que as novas autoridades não vão “hesitar em responsabilizar criminosos, assassinos, oficiais do Exército envolvidos na tortura do povo sírio”.

E anunciou que vão ser oferecidas recompensas a quem quer que dê informação sobre altos responsáveis militares e dos serviços de segurança envolvidos em crimes de guerra, acrescentando que as autoridades irão tentar que quem fugiu para o estrangeiro regresse ao país. Na véspera, o grupo tinha anunciado que não iria castigar soldados que tivessem sido alvo de recrutamento obrigatório. Mas os responsáveis pela tortura serão procurados.

Na prisão de Sednaya, foco das esperanças de muitas famílias de pessoas desaparecidas, saíram imagens terríveis, de celas imundas, sem casas de banho, com garrafas com urina. Uma fotografia de uma divisão com um amontoado de sapatos e roupas levou a comparações com outras imagens de sapatos e roupas num campo de concentração e extermínio nazi, Auschwitz.

Essas comparações vinham a ser feitas desde os relatos de medidas do regime sobre o que fazer com os corpos do grande número de pessoas executadas (e mortas pelas condições terríveis de detenção, fome ou doenças), e da suspeita norte-americana de que teria sido construído um crematório, até à afirmação da Associação para Detidos e Desaparecidos da Prisão de Sednaya, com sede na Turquia, de que havia câmaras de sal para servir de morgues temporárias até à transferência de corpos antes de estes serem levados para o hospital militar de Tishreen, em Damasco, e serem enterrados em terrenos militares (as famílias nunca receberam os corpos dos mortos).

A ADMSP afirmou, em 2022, que a prisão “se tinha tornado efectivamente um campo de morte” depois do início da guerra, cita a BBC. O conflito começou com uma revolta contra o regime reprimida com enorme dureza, que se transformou numa guerra civil.

A associação estimou que mais de 30 mil detidos morreram, executados ou na sequência de tortura, falta de cuidados médicos ou à fome.

A ADMSP disse que um documento oficial de 28 de Outubro contava 4300 detidos na prisão.

Depois de confirmar que a busca por alas secretas onde pudessem estar ainda detidos tinha terminado, os Capacetes Brancos emitiram uma declaração “partilhando o desapontamento profundo de milhares que continuam desaparecidos e cujo destino permanece uma incógnita”.

O director da organização, Raed al-Saleh, disse que os Capacetes Brancos tinham ajudado a libertar 20 mil a 25 mil presos de Sednaya.

Uma notícia que causou consternação foi a da descoberta do corpo de Mazen al-Hamada num hospital em Damasco. O anúncio foi feito pela sobrinha, Joud al-Hamada, no Facebook. “Se tivesses aguentado apenas aquela semana…”, escreveu. A notícia foi replicada por vários activistas da oposição.

Hamada, preso por ter participado nos protestos contra o regime em 2011, tornou-se a face dos efeitos da terrível tortura do regime, que relatou depois de ter saído da Síria e conseguido asilo nos Países Baixos. Contou a sua história várias vezes. Chorou quando descreveu a parte mais bárbara da tortura, que envolveu os genitais e uma violação. Ficou com danos permanentes, físicos e psicológicos.

O regresso de Hamada à Síria em 2020, onde foi detido logo no aeroporto de Damasco, nunca foi bem explicado. Terá morrido na semana passada.

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