Os partidos políticos e o Comité Olímpico de Portugal

Uma eventual eleição de um político, qualquer um deles, partidariamente identificado, só pode ser negativo para a instituição.

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Agendadas para o dia 19 de Março de 2025 (uma espécie de Dia do Pai Olímpico) as eleições para a Comissão Executiva do Comité Olímpico de Portugal (COP) - o presidente da Comissão Executiva é o presidente do COP –, são já vários os putativos candidatos a esse estatuto. Entre eles, destacamos hoje o “apetite” de dois antigos membros de Governo com responsabilidades na área do desporto: Laurentino Dias (PS) e Alexandre Mestre (PSD).

Dir-se-ia, à primeira vista, que a sua experiência como governantes em matéria desportiva lhes confere algum crédito, mas, mesmo por esse prisma, o balanço da sua acção não nos parece favorável pois contaram sempre com duras críticas de José Manuel Constantino, entre outros. Por outro lado, jogarão mão dos conhecimentos e influências alcançados nesses tempos governativos, para tentar fazê-las valer no acto eleitoral.

Mas, acima de tudo, uma eventual eleição de um político, qualquer um deles, partidariamente identificado, só pode ser negativo para a instituição. Um político partidário tem no seu gene uma íntima vontade de promover os respectivos interesses do partido. Não há como fugir a esta constatação. Quase diríamos que é da natureza das coisas, ou dos homens. Ora, trazer essa visão, qualquer que seja, para o COP, não nos parece positivo. Partidarizar o COP não pode ser bom. E não se esqueça a norma estatutária (artigo 2.º, n.º 1), sobre a autonomia do COP: “O COP é uma entidade que deve preservar a sua autonomia, recusando quaisquer influências, sejam elas de natureza política, jurídica, económica ou religiosa, que possam impedi-lo de cumprir com as disposições da Carta Olímpica.”

Nada melhor para aquilatar este tipo de candidatos do que confrontar algumas palavras testamentárias de José Manuel Constantino com a declaração de candidatura de Alexandre Mestre. Na sua entrevista à Visão (25 de Julho) JMC, após ter afirmado as boas relações com os titulares da pasta do desporto, salientou:” …com uma pequena excepção, que também foi curta, que foi a do secretário de Estado de Desporto Alexandre Mestre. Porquê? Porque ele homologou um parecer da Inspecção-Geral de Finanças completamente assassino para o Comité Olímpico de Portugal, numa matéria em que ele é especialista, e em que nós éramos obrigados a repor cerca de meio milhão de euros, correspondentes ao período em que os meus antecessores, presidente, secretário-geral e tesoureiro foram remunerados. Matéria que está perfeitamente regulada em termos de Carta Olímpica, e em que Portugal e Andorra são as únicas excepções em termos europeus, cujos titulares não são remunerados. E, portanto, criou-nos imensas dificuldades. Isto, além de se ter envolvido numas conversações para tentar evitar a minha eleição para presidente do COP”.

Vem agora, com enorme desfaçatez, Alexandre Mestre dizer “que defende liderar um projecto que mobiliza o melhor do legado do comandante Vicente Moura e do doutor José Manuel Constantino, somando-lhe a ambição de querer ir mais longe no apoio aos atletas, aos técnicos, às federações, ao movimento olímpico português em geral”. E logo para três ciclos olímpicos, que corresponde à duração máxima dos mandatos.

Citando pessoa amiga, quando existem eleições, os verdadeiros candidatos são aqueles que não precisam do cargo para se promoverem, sendo que nesse caso, a tendência é para se servir do cargo e não servir as funções para que se pretende ser eleito.

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