Construção em solo rústico? Há alternativas para o problema da falta de casas, dizem especialistas
Governo simplificou a lei dos solos para agilizar processos e incentivar a construção de habitação acessível. Organizações ambientalistas e especialistas em gestão do território sugerem alternativas.
Dezasseis organizações ambientalistas e especialistas em gestão territorial enviaram esta quinta-feira uma carta aberta ao Governo afirmando-se preocupados com a recente decisão de possibilitar construção em solos rústicos e propondo alternativas mais sustentáveis.
Na carta, as organizações destacam as características naturais essenciais dos solos rústicos, "adequados para actividades agrícolas, florestais, de conservação e lazer, além de desempenharem um papel crucial na protecção contra riscos ambientais", e asseguram que há alternativas para resolver o problema da falta de casas.
"Embora reconheçamos a gravidade da crise habitacional e a necessidade de soluções acessíveis, acreditamos que a construção em solos rústicos criará mais problemas do que soluções", afirmou Maria Amélia Loução, porta-voz dos signatários, citada num comunicado, no qual se salienta também que os solos rústicos já enfrentam ameaças crescentes.
O Governo aprovou a 28 de Novembro uma alteração ao Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT), permitindo o aumento da oferta de solos destinados à construção de habitação, para dar resposta à crescente falta de casas.
Impacto ambiental
No entender das organizações a alteração contradiz compromissos internacionais, como a Directiva Europeia de Monitorização do Solo e o Tratado Kunming-Montreal, que priorizam a preservação dos solos e da biodiversidade.
Segundo os subscritores da carta, o licenciamento de construções em solos rústicos pode levar à fragmentação de terrenos agrícolas, à destruição de florestas e à necessidade de infra-estruturas adicionais, agravando o impacto ambiental e aumentando os custos públicos.
Em alternativa, propõem a reabilitação de edifícios urbanos degradados e o aproveitamento de terrenos urbanizáveis ainda não utilizados. Os signatários pedem ao Governo para que reconsidere a decisão e promova uma ampla discussão pública sobre o tema.
Assinam a carta aberta as organizações A ROCHA, Acréscimo, ACSA, ADPM, AEPGA, ALDEIA, Almargem, ANP/WWF, FAPAS, GEOTA, LPN, Palombar, Quercus, SPEA, SPECO, e Zero, que pedem também uma audiência ao primeiro-ministro para apresentar em pormenor as preocupações e as alternativas.