Xi elogia “influência e visibilidade” de Macau mas pede “diversificação económica”

Presidente chinês marcou presença nas celebrações do 25.º aniversário da transferência de soberania do antigo território português. Sector do jogo contribui para 80% das receitas fiscais de Macau.

Foto
Xi Jinping, Presidente da República Popular da China (à direita), e Sam Hou-fai, novo líder do Governo de Macau Justin Chan / VIA REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:25

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Xi Jinping terminou nesta sexta-feira uma vista de três dias à região administrativa especial chinesa de Macau, onde participou nas comemorações do 25.º aniversário da transferência da soberania do antigo território português para a República Popular da China e assistiu à tomada de posse do novo chefe do executivo macaense, Sam Hou-fai.

Em jeito de balanço, o Presidente chinês deixou largos elogios ao caminho percorrido por Macau, que descreveu como o “mais próspero de todos os portos de Cantão”, mas assumiu que é prioritário “promover uma diversificação económica apropriada” na região administrativa.

Fruto da liberalização do sector, em 2002, Macau é o único território da China onde se pode apostar e transformou-se, nas últimas décadas, num dos maiores destinos turísticos mundiais da indústria dos casinos. Actualmente, os jogos de sorte ou azar contribuem para cerca de 80% das receitas fiscais da cidade.

“Nos últimos 25 anos, o princípio ‘um país, dois sistemas’ com as características de Macau alcançou um sucesso reconhecido mundialmente e demonstrou vitalidade e uma atractividade única”, afirmou Xi logo na quarta-feira, quando chegou a Macau, citado pela AFP.

No dia seguinte, num jantar de gala com Sam, com outras figuras políticas e empresariais do território e com o líder do Governo da região administrativa especial de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, o Presidente chinês disse que “a influência e visibilidade internacionais de Macau cresceram significativamente”, fruto da “manutenção de laços económicos e comerciais estáveis com mais países e regiões”.

Não obstante, Xi Jinping defende que Macau deve agora “abraçar uma visão mais alargada” e “acompanhar as tendências dos tempos”, atraindo os “melhores cérebros”, nomeadamente nos sectores da investigação científica e da tecnologia.

A dependência económica de Macau do turismo do jogo e das receitas dos seus casinos ficou particularmente exposta durante a pandemia de covid-19. Para além do impacto na economia e no custo de vida local, as restrições implementadas pelas autoridades também contribuíram para redução ainda mais acelerada da comunidade estrangeira, nomeadamente da portuguesa.

Nesta sexta-feira, na cerimónia de tomada de posse de Sam Hou-fai, Xi também sublinhou a importância de Macau nas relações económicas com países falantes de língua portuguesa.

“Tratando-se do único local do mundo que usa o chinês e o português como línguas oficiais, Macau tem desempenhado um papel importante como plataforma na promoção da cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, disse Xi, citado pelo South China Morning Post.

O Presidente da República também não quis deixar de assinalar os 25 anos da transferência de administração de Macau de Portugal para a China. Numa nota publicada nesta sexta-feira no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que os dois países se têm “empenhado em garantir as melhores condições para a transição em Macau e concretizaram uma parceria estratégica entre Portugal e a China, assente num passado histórico comum, em benefício dos dois povos e das suas relações no século XXI”.

Em declarações reproduzidas pelo Financial Times, Anthony Lawrance, empresário e fundador da empresa de consultoria Intelligence Macau, diz que a visita do líder chinês ao território é “significativa, não apenas pelo seu simbolismo, mas pela mensagem”, que quis transmitir, uma vez que é a “primeira vez que elogia Macau por ter feito bem o seu trabalho”. “As visitas anteriores serviram para admoestar e persuadir”, assinala.

Apesar do crescimento económico de Macau à boleia da indústria do jogo, as liberdades e garantias dos cidadãos sofreram um declínio assinalável, já que, tal como na vizinha Hong Kong, o antigo território português também foi alvo da polémica lei de segurança nacional chinesa e de uma reforma eleitoral que reservou apenas aos “patriotas” – figuras alinhas com Pequim e com o Partido Comunista Chinês (PCC) – o direito se candidatarem a cargos públicos.

“De Portugal, vêem-se celebrações e fogo-de-artifício. Não se vê, porém, aquilo que não existe: amplas liberdades cívicas, imprensa livre, expressão artística irrestrita, criticismo político, destemor ou irreverência social. Vinte e cinco anos depois da transição de Macau para a China, o saldo é este: dinheiro, muito; liberdades, poucas”, lamenta o advogado Jorge Menezes, residente em Macau, num artigo de opinião publicado na quinta-feira no PÚBLICO.

“O modelo de Macau e Hong Kong foi um falhanço histórico. Os governos servem aqueles por quem respondem e respondem por quem os nomeia, não por quem têm por missão servir”, acusa. “Hoje, Macau só tem autonomia decisória face à China em assuntos menores, tendo sido convertido de comunidade política numa espécie de circunscrição autárquica.”

Sugerir correcção
Comentar