A polarização política e a divulgação de dados falsos, nomeadamente relacionados com as questões de segurança, parecem ter feito crescer a agressividade para com os imigrantes. Garantir que se esbate essa ideia falsa de insegurança associada à imigração é um dos desafios imediatos que temos?
Penso que sim. Há uma percepção errada, que cresce muito no espaço público e mediático, desta insegurança ligada a imigrantes. De facto, não há qualquer tipo de dados que nos digam que [a insegurança] aumentou. Pese embora tenha aumentado muito a imigração, não aumentaram os crimes associados a imigrantes. Este é um dado muito concreto que importa sempre sublinhar. Mas como a percepção também é importante, temos de a trabalhar, tentar compreender como é que a podemos alterar. Acredito que uma das formas é retirar a capacidade de mediatizar este discurso de extrema-direita. Porque se ele é falso, não deve ser mediatizado, e se é uma repetição do passado já não é notícia. Devemos reduzir este discurso aos próprios emissores e não sermos todos nós receptores, porque fazemos eco e amplificamos estas questões. Uso muito uma imagem que me parece muito simples. Hoje em dia quando alguém invade um relvado de futebol e está a decorrer um jogo, as câmaras já não filmam o invasor, para que não haja mimetização desse acto. Aqui temos de fazer a mesma coisa.