Um passeio pela história da vinha em Sobrado e pela evolução do próprio Vinho Verde

A pé ou de jipe, o enoturismo da Quinta das Arcas, em Valongo, propõe uma “viagem” à história da vinha e do vinho em Sobrado, mas também na própria região dos Vinhos Verdes.

Anna Costa - Quinta das Arcas em Sobrado
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Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa
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Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa
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Ninguém associa Valongo a território de vinha, mas, alheio a isso, António Esteves Monteiro recusou-se a deslocar a entrada da Quinta das Arcas, propriedade que, na verdade, tem portão em Valongo e a maioria das vinhas já no concelho de Paredes. Conta-nos Mário Rui, segunda geração, que o pai, natural de Porto de Mós, chegou ali no início dos anos 1980, depois de se casar. A mulher tinha estudado e vivido em Bruxelas e, meio pequeno por meio pequeno, preferiu Valongo.

Em Porto de Mós, já tinha uma destilaria, que manteve, e nas Arcas começou por trabalhar com gado que mandava vir dos Açores. Até que surgiu "a oportunidade de adquirir uma empresa, a ABC, que era sua cliente nas aguardentes".

"Ficou com a marca, o vendedor, o carro da distribuição, as garrafas e as grades. É assim que o meu pai começa, a vender aguardente, com um vendedor na rua, porta a porta, no início dos anos 1980", conta o filho, um de três, todos a trabalhar na empresa que hoje tem cinco propriedades na Região dos Vinhos Verdes (250 hectares, 4 milhões de litros de vinho por ano) e está também no Alentejo (outros 180 hectares e 1 milhão de litros de vinho de produção anual).

O tal funcionário ainda está com a família. "Tem 76 anos e ainda vende aguardente", conta Mário Rui Monteiro, que na empresa tem a seu cargo o mercado nacional. Esteves Monteiro identifica logo uma "oportunidade" no Vinho Verde. Achava os vinhos feitos na região "difíceis e muito primitivos", mas "decide plantar a primeira vinha" e tentar fazer diferente.

Quem visita a Quinta das Arcas fica a conhecer essa história de empreendedorismo, claro, mas também mergulha na história do território. "No século XVIII", conta Mário Rui, "Sobrado era um sítio de gado" e os animais subiam à "meia encosta" para passar aí o Inverno. As pessoas construíam, inclusivamente, abrigos no monte. "Do gado mudam para a farinha e passam a fornecer as padarias de Valongo que abasteciam o Porto."

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A Quinta das Arcas tem cerca de 10 quilómetros de percurso terrestre, que percorre o núcleo agrícola de Ferreira, o rio, a quinta e as vinhas. Anna Costa

Quando António Esteves Monteiro decide mudar-se para ali, "redescobre essa capacidade agrícola", essencialmente focada no "autoconsumo". Nessa lógica, toda a gente fazia vinho. Sobrado era terra de minifúndio, autoconsumo e ramadas, no fundo, à imagem do que era nesses tempos a própria Região dos Vinhos Verdes.

É curioso perceber que começou por "plantar vinha na encosta e na meia encosta", para hoje apostar novamente nas zonas de rio, à procura de frescura e num contexto de crise climática (que toca a todos, até aos do Minho), mas também com um sentido de sustentabilidade social. No monte, mecanizou a vinha, nos baixos, onde outrora havia cereais, manteve vindima manual.

As vinhas mais antigas têm cerca de 40 anos, quase tudo loureiro (o resto é arinto, trajadura, chardonnay, pinot grigio, avesso e verdejo de rueda) e ficam precisamente na Quinta das Arcas, "em solos de xisto, a cerca de 15 quilómetros do mar, em linha recta, abrigados pela cordilheira" das Serras do Porto. Um dos pontos altos da visita a este produtor é quando o percurso a pé pela avenida principal passa numa zona onde é possível viajar pelos diferentes sistemas de condução da vinha que a região já conheceu: a ramada, a cruzeta e o cordão.

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A Quinta das Arcas assenta em solos de xisto, como exemplifica Diana Monteiro, a irmã do meio, responsável pela parte de enoturismo. Anna Costa

Vinhas, abelhas e turismo activo

Diana Monteiro, a irmã do meio, responsável pelo enoturismo, partilha que a quinta está a fechar novas propostas para 2025, mas que já vai tendo novidades decorrentes de melhorias feitas nos últimos dois anos. "A maior parte das nossas provas tem um passeio pelas vinhas e os preços variam consoante a prova, que decorre na sala de provas que fica por debaixo da casa da família."

A prova clássica, por exemplo, custa 19,50 euros por pessoa e inclui dois vinhos Verdes, dois alentejanos, tábua de queijos e azeite. Para grupos grandes, aí de umas 30 pessoas para cima, as provas já são feitas no salão e há a possibilidade de fazer o percurso pela propriedade no comboio turístico, adquirido e recuperado há pouco mais de um ano.

"Depois, temos o passeio de jipe, que demora mais tempo, e em que vamos às outras quintas e terminamos com uma prova de vinhos premium", conta Diana, acrescentando que, para além das propostas disponíveis no site, há todo um mundo de possibilidades pensadas à medida. "O valor varia se é com almoço, sem almoço, se querem o enólogo na visita — em 90% dos casos, é o Fernando [Machado, enólogo principal] que acompanha. Ele está cá desde que eu era pequenina. Vive a empresa." "Um taylor-made de visita com almoço mais simples anda à volta dos 50 euros por pessoa. Com enólogo e vinhos premium, pode ir aos 80 euros", exemplifica.

Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa
Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa
Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa
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Quinta das Arcas, em Sobrado (Valongo) Anna Costa

Para além de falarem da história da Quinta das Arcas e da relação de Sobrado com a cultura da vinha, Diana e um outro guia abordam "o trabalho em produção integrada". "Fomos pioneiros na produção integrada e temos duas vinhas biológicas, uma aqui e uma em Santo Tirso. Mostramos as armadilhas de feromonas [para a traça-da-uva], os enrelvamentos quando é possível e, no passeio de jipe, ainda é possível mostrar as abelhas."

As abelhas? "Sim, temos um projecto que começou há três anos. No primeiro ano, não correu muito bem por causa das vespas asiáticas. Mas agora temos umas harpas eléctricas, alimentadas a energia solar, que não as matam mas libertam umas feromonas que fazem que as vespas avisem as outras que ali é perigoso."

Das colmeias, recolhem um mel "100% puro", que, nesta altura, vendem como "um complemento" ao vinho, aos queijos — a quinta já não tem vacaria, nem sequer produção, mas continua a embalar queijos com marca própria — e aos biscoitos de Valongo (em parceria com uma produção local). E tudo "por uma questão de responsabilidade social, pelo papel importante que as abelhas têm", sublinha a também apicultora.

Para além da oferta permanente, a quinta tem vários eventos específicos ao longo do ano e cujo calendário vai divulgando no site e nas redes sociais: três ou quatro caminhadas solidárias por ano, em que são sempre propostas mais do que uma distância e em que o valor da inscrição é doado a uma instituição, preferencialmente do concelho; uma espécie de casa ao tesouro na vinha por altura do Dia dos Namorados; o lançamento do Primoris, ali perto do São Martinho (as castas tintas, têm-nas em Penafiel, na Quinta de Villar); e na mesma altura do ano o Trail da Quinta das Arcas — o troféu é um copo com uma inscrição relativa ao evento e há quem já coleccione algumas edições.

Nas palavras do filho Mário Rui, Esteves Monteiro "sempre entendeu que só teria sustentabilidade se tivesse pés para caminhar". "Não bastava ter uma marca.” E é isso que se respira quando se vai às Arcas.

Quinta das Arcas
Rua Central da Lomba, 1500, Sobrado (Valongo)
Tel.: 224 157 810 / 224 110 070
Email: enoturismo@quintadasarcas.com
Das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30. Encerra ao fim-de-semana
Prova de vinhos, desde 19,50 por pessoa (4 vinhos, queijos, azeite)

A regueifa é uma parte fundamental da história e da cultura do município de Valongo. DR
Valongo é um dos territórios abarcados pelo Parque das Serras do Porto, conhecido como o "pulmão verde" da área metropolitana. NFACTOS/Fernando Veludo/Arquivo Público
No concelho de Penafiel, vale a pena explorar uma aldeia que, mais do que uma arquitectura antiga, preservou a forma lenta de viver. Rui Oliveira/Arquivo Público
No restaurante Toca da Formiga, Arnaldo Azevedo foca-se no produto, sem salamaleques no que toca tanto à confecção como ao serviço. Adriano Miranda/Arquivo Público
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A regueifa é uma parte fundamental da história e da cultura do município de Valongo. DR

Este artigo foi publicado na edição n.º 14 da revista Singular.
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