Philip Roth: tudo menos amor
No retrato de Philip Roth por Blake Bailey, os 31 livros do autor constituem uma interrogação de seis décadas a si mesmo, ao seu país e às suas tremendas contradições, uma interrogação sobre o que significa viver naquele tempo, naquele corpo e com aquelas obsessões. É um livro capaz de nos fazer adorar Roth e odiá-lo na mesma página.
Há dez anos, depois da publicação de Némesis e pouco antes de deixar escapar, numa entrevista francesa, a notícia de que iria retirar-se, Philip Roth escreveu outro livro. O processo de escrita foi célere, mas a história maturou durante muito tempo. Intitulado Notes for My Biographer, o manuscrito de 295 páginas era uma refutação, mais do que propriamente um romance, e corrigia ponto por ponto a narrativa histórica. Quando o leram, todos os amigos de Roth se opuseram à publicação; foi a primeira vez que tal aconteceu. A grande biógrafa Hermione Lee e o investigador em Religião Jack Miles desaconselharam que o livro saísse. Uma ex-amante do escritor leu o livro e descortinou nele algo que já lhe era familiar: “o perpétuo desejo de ser compreendido e de se justificar”. “Vais causar mais prejuízos a ti mesmo com este livro do que ela causou com o livro dela”, disse esta mulher a Roth, aludindo à memoir de Claire Bloom sobre o casamento de ambos, um livro com que ele se bateu até ao fim. “Mas é a verdade!”, respondeu Roth. Ela rebateu: “Vais parecer um arruaceiro… Parece que estás a dizer: ‘Não fui eu que comecei!’” E concluiu: “Não faças isso.”
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